Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 18/11/2011

Bon Iver
Indie/Folk/Singer-Songwriter
http://boniver.org/

Por: Cleber Facchi

 

Quem se depara com a fisionomia rude do cantor e compositor Justin Vernon antes de se deparar com a tonalidade sublime de suas músicas, talvez jamais consiga imaginar que por trás do aspecto sisudo do compositor se esconda um indivíduo de coração frágil e alma tão sensível. Romântico e melancólico até o último fio de sua barba, Vernon fez com que todos os possíveis olhares temerosos em relação a sua fisionomia fossem sumariamente esquecidos quando em fevereiro de 2008 apresentou o delicado For Emma, Forever Ago, primeiro álbum como Bon Iver e provavelmente o maior tratado romântico da última década.

Sufocante e apaixonante na mesma medida, o registro de nove faixas é um mergulho profundo nas feridas abertas de seu criador, muito embora grande parte do que se materialize ao longo do registro seja capaz de dialogar universalmente com qualquer ouvinte, transformando Vernon em um grande representante dos corações partidos. Instrumentalmente simples – basicamente o registro se resume à voz e violão -, o trabalho concentra em pouco menos de 40 minutos uma quantidade imensurável de lamentos dolorosos e uma visão forçadamente positiva de um universo solitário e frio.

Como todo grande registro que se preze, a primeira obra do Bon Iver não poderia deixar de contar com uma formidável história. Boa parte do que se traduz no resultado final do trabalho veio de um longo período de afastamento de Vernon, que ao descobrir que sofria de Mononucleose resolveu se isolar em uma cabana no interior de Wisconsin. Afastado do mundo e vivendo no isolamento durante três meses, o músico foi aos poucos captando toda a melancolia que o cercava, resgatando em sua mente amores de um passado recente e uma série de incontáveis aspectos que perpassam a vida de um indivíduo solitário.

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Passado o período de isolamento, Justin começou a estruturar melhor todos os aspectos do registro, captando toda a sonoridade que o delimita através de alguns parcos microfones e um ambiente totalmente caseiro. O resultado dessa somatória de eventos e ritmos acabou resultando na beleza acalentadora de For Emma, Forever Ago, um trabalho que mesmo embebido em entonações sorumbáticas parece acolher o espectador, utilizando de seus versos melancólicos como uma espécie de mecanismo de conforto.

Utilizando de uma ambientação simplista, porém, integralmente melódica e atrativa, Vernon vai aos poucos encaixando as peças de seu quebra-cabeça sorumbático, posicionando uma série de versos tomados por um lirismo peculiar e rico em suas estruturas. Dentro desse ambiente único o músico se cobre pelas metáforas de Lump Sum, pela estrutura amargurada de Skinny Love ou mesmo pela fragilidade de si próprio em Creature Fear, transformando o disco em uma sequência quase interminável de versos esculpidos pela dor e pela solidão, afastando-se de qualquer possível aproximação com as redundâncias como a música pop aborda tal temática.

Inicialmente desprezado por uma série de publicações, o álbum foi ao longo de 2008 angariando uma soma estrondosa de seguidores, que utilizaram da grande rede para divulgar o trabalho, inicialmente lançado e custeado pelo próprio Justin. Ao término daquele ano, entretanto, o Bon Iver estava longe de ser compreendido como um mero fenômeno da música independente ou um possível novo ícone da música folk, o músico havia se convertido em uma espécie de amigo íntimo, alguém que sabia de todos seus segredos, suas dores e sabe como te reconfortar.

For Emma, Forever Ago (2008, Jagjaguwar)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Fleet Foxes, Volcano Choir e Iron & Wine
Ouça: Flume e Skinny Love

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.