Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2011

Girls
Indie/Lo-Fi/Alternative
http://www.myspace.com/girls

Por: Cleber Facchi

 

O sol, a brisa do mar e o romantismo falaram mais alto em 2009. Em meio a grandes lançamentos que incluem Merriweather Post Pavilion, Bitte Orca e a estreia do The XX, uma verdadeira onda de artistas consumidos pelo espírito do verão norte-americano trataram de se embrenhar pelas vias calorosas do período, mobilizando uma série de lançamentos que exaltavam as puras sensações praieiras. Da alvorada da Chillwave aos entrelaces psicodélicos de artistas como Real Estate, foi a dupla californiana Girls – formada por Christopher Owens e Chet “JR” White – quem melhor soube retratar todas as experiências do período.

Vindos de uma série de esporádicas apresentações pelos clubes de São Francisco e algumas parcas gravações caseiras pouco ou praticamente desconhecidas do público, o duo só precisaria de seu primeiro disco para alcançar a unanimidade dos ouvintes e a aceitação entusiasmada da crítica. Mergulhado em um oceano de sensações nostálgicas, passeios pela obra do The Beach Boys e um fino toque de música Hippie – longe dos clichês, é claro –, Album, primeiro trabalho da banda, conseguiu reproduzir um tipo de som que mesmo delineado pela abrangência de seus elementos acaba finalizando como um projeto movido por sua identidade e pela distinção de seus conteúdos.

Afogado em um romantismo sincero, doloroso e em alguns momentos quase exagerado, Owens entrelaça um conjunto de versos honestos, frases e canções que se conectam diretamente a amores errados do passado, mas que estranhamente se orientam dentro de um ineditismo incompreensível. “Onde isto começou? Nós costumávamos ser amigos/ Agora quando eu passo por você, finjo que não lhe vejo/ Eu sei que você me odeia”, lamenta o músico no hit Laura, uma das várias composições que reforçam a estrutura melancólica do registro.

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Além de despedaçar seu já trincado coração por todo o registro, Owens aproveita para ressaltar aspectos universais da solidão e do isolamento, algo bem expresso nos versos da grandiosa Hellhole Ratrace. “Eu estou cansado do jeito que eu me sinto/ Eu estou sempre sonhando e nunca é verdade/ Estou sozinho com meus pensamentos profundos/ Estou sozinho com minha dor de cabeça e minhas boas intenções”, reforça em um dos momentos mais dolorosos do álbum, ao mesmo tempo em que clama por mudança praticamente berrando “E eu não quero chorar minha vida inteira/ Eu quero rir um pouco também/ Então vamos, ria comigo”.

Mesmo acompanhado por uma profusão de versos entristecidos, o registro passa longe de optar por esse mesmo tipo de direcionamento em sua instrumentação, transformando-se em um álbum que mesmo pesaroso em diversos pontos, concentra seus esforços em uma instrumentação melódica e que em alguns momentos beira o pop. Lust For Life, faixa de abertura, pro exemplo, segue em nível ascendente, despejando uma carga policromática de guitarras entusiasmadas que praticamente se opõem aos versos ansiados da composição.

Dividido entre momentos de calmaria quase sonolenta (Ghostmouth e Lauren Marie) e canções levemente radiantes (Big Bad Mean Motherfucker e Lust For Life), o trabalho cresce, encolhe e explode em diversos momentos, com a dupla californiana reproduzindo versos e um tipo de som que parece se adequar a diferentes exigências dos ouvintes. Mais do que um ensolarado registro marcado pelas reverberações litorâneas, Album se anuncia como um projeto de linguagem universal, um tipo de disco que mesmo florescendo das exaltações, sentimentos e melancolias de um único indivíduo, parece dialogar com todos que a ele acabam se entregando.

Album (2009, True Panther Sounds)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Real Estate, Smith Westerns e Cults
Ouça: Laura

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.