Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 23/11/2011

Dan Deacon
Electronic/Experimental/Indie
http://www.dandeacon.com/

Por: Cleber Facchi

 

Dan Deacon nunca teve uma visão muito convencional do que é estabelecido como “música eletrônica”. No universo particular instalado em sua mente, o produtor nascido em Nova York – e residente em Baltimore – sempre enxergou o encaixe entre programações, samples, vozes e instrumentos de forma bastante peculiar, algo que sempre fez questão de reforçar desde que seus primeiros lançamentos começaram a chamar a atenção da imprensa no começo do século. Todas essas experiências musicais armazenadas em singles ou EPs, entretanto, não equivaleriam nem a uma milésima parte da experiência que o músico estabeleceria com a chegada de seu primeiro e inovador álbum oficial.

Um Pica-Pau (sim, aquele do desenho) anfetaminado, o homem morcego trajando vestes rosa, gatos drogados dançando em meio a beats acelerados e toda uma profusão de sons sintéticos ou naturais que são partidos, fragmentados e completamente remodulados nas mãos do excêntrico produtor. Assim é o ambiente essencialmente dadaísta que encontramos em Spiderman of the Rings, primeira grande obra do músico norte-americano e registro apresentado via Carpark Records em maio de 2007.

Bebendo da mesma eletrônica que há tempos circunda o universo da música, porém, estabelecendo sua própria realidade e concepção sobre o estilo, Deacon vai aos poucos se embrenhando em um mundo de formas e fórmulas inconstantes. Faixas que trafegam por uma via musical essencialmente pop e versátil (suficientemente capazes de dialogar com algum grande figurão do gênero), mas que em nenhum momento encontram na acessibilidade seu principal refúgio, puxando o artista para um terreno sempre complexo, próprio e louco, como se Dan fosse o criador e único indivíduo hábil a seguir suas próprias regras.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=vFlBJ1xZK10&w=640&h=360]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=skCV2L0c6K0&w=640&h=360]

Bem humorado tanto em suas parcas letras como na sonoridade contagiante que banha o disco, Deacon vai aos poucos fazendo dessa complexidade cômica um motivo para reformular a obviedade de determinados estilos musicais. Sejam os toques de Drone em Wham City (que acaba soando como Fuck Buttons mais “alegrinho”) ou uma curta passagem pelo electropop de Okie Dokie, a cada transição do músico por um diferente gênero musical somos assolados por uma montanha de referências que rompem facilmente com o evidente, transformando Dan em um personagem camaleão em seu próprio ambiente.

Na época com 26 anos, o norte-americano parece ter encontrado grande parte das referências que caracterizam seu divertido registro não no universo musical de um adulto, mas no oposto, na visão de uma criança. Bom número dos sons que delimitam o trabalho são soterrados em uma avalanche de referências pueris, como se Deacon desenvolvesse o disco como uma espécie de trilha sonora (drogada) para algum programa televisivo infantil. O resultado disso vem expresso em faixas como Snake Mistakes, Wooody Wooodpecker e Big Milk, com seus tecladinhos açucarados, temáticas suaves, samples cômicos e uma sequência de referências que parecem pensadas para uma platéia integralmente infantil.

Uma vez dentro do universo gerado pelo produtor, torna-se difícil ou praticamente impossível sair, com o músico – uma grande criança barbada -, transformando os próprios ouvintes em seres infantes e magicamente instalados dentro desse ambiente musical repleto de formas coloridas, estranhas e misteriosamente envolventes. Dan Deacon nunca teve uma visão muito convencional do que é estabelecido como “música eletrônica” e talvez nem do que é compreendido como “realidade”.

Spiderman of the Rings (2007, Carpark)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Ponytail, Fuck Buttons e Animal Collective
Ouça: Jimmy Roche

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.