Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 25/11/2011

Yeah Yeah Yeahs
Indie Rock/Garage Rock/Female Vocalists
http://www.yeahyeahyeahs.com/

Por: Cleber Facchi


Com um cenário musical cada vez mais repleto de figuras relevantes e contribuintes verdadeiros para a expansão do rock indie no começo dos anos 2000, faltava ainda a presença de uma voz feminina que de fato garantisse sustento e identidade ao panorama que ali começava a se estabelecer. Em meio ao masculino universo formado por bandas como Strokes, Killers e todo o conjunto de (hoje) veteranos que deram formas ao rock do novo século, foram os vocais esquizofrênicos de Karen O e a sonoridade raivosa dos parceiros do Yeah Yeah Yeahs que acabaram realmente chamando as atenções.

A fórmula é até bem simples: uma guitarra desequilibrada e honrando os grandes representantes do antigo rock de garagem, uma bateria espancada e um conjunto de versos ironicamente delineados. Com esses elementos a trinca formada por Karen O, Nick Zinner e Brian Chase deram em 2003 formas ao anárquico Fever To Tell, um registro que não poupa na hora de promover uma sonoridade acelerada e um fino toque de despretensão que estava em alta na época de seu lançamento, subsídios que garantiram amplo destaque ao trabalho da iniciante e empolgada banda.

Dançante e ao mesmo tempo movido por uma crueza visceral, o trabalho vai de encontro ao que grupos como Blondie e tantos outros representantes da cena nova-iorquina desenvolveram a partir da segunda metade da década de 1970. Guitarras marcadas por riffs pegajosos vão garantindo as bases para que a vocalista tempere todo o álbum com gritos imoderados, repassando uma vaga imagem de um trabalho caótico, mas que na verdade se orienta de forma quase orquestral e harmônica.

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Contando com a presença de Dave Sitek, membro da ainda desconhecida TV On The Radio e também responsável pelo primeiro EP do trio norte-americano, o trabalho segue uma linearidade única quando observado em relação a outros lançamentos daquele mesmo período. Enquanto Is This It do The Strokes ou mesmo o clássico White Blood Cells do The White Stripes acabam contando com alguns momentos mais mornos e menos inspirados em seu decorrer, Fever To Tell se preenche por uma força única, proporcionando um resultado inventivo e intenso até seus últimos minutos.

Entre memoráveis composições marcadas pelo uso de uma sonoridade raivosa – em que se destacam faixas como Rich e a explosiva Y Control -, o trio ainda tira tempo para investir em momentos mais amenos e tocados por uma melancolia romântica. Quem pensa que para isso o grupo perderia parte do brilho que se abriga em outras composições acaba percebendo a grandiosidade da banda e a versatilidade de seus integrantes logo que ecoam os primeiros versos da belíssima Maps (um dos maiores tratados românticos da última década) ou mesmo a serenidade de Modern Romance, com o grupo demonstrando uma maturidade musical surpreendente para um primeiro trabalho.

 Além da boa recepção da crítica – que praticamente transformou a banda em uma nova queridinha da cena independente – com Fever To Tell o trio alcançaria um número mais do gratificante de vendas, ultrapassando os limites do público alternativo e dialogando ativamente com ouvintes vindos de outros segmentos musicais. Por mais completo e bem estruturado que seja o primeiro álbum do YYYs ele seria apenas uma ínfima ponta de um imenso iceberg que o grupo nova-iorquino faria emergir posteriormente.

Fever To Tell (2003, Interscope/Fiction)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: The Kills, The White Stripes e Le Tigre
Ouça: Y Control e Maps

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.