Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 29/11/2011

Eminem
Rap/Hip-Hop/Male Vocalists
http://www.eminem.com/

Por: Cleber Facchi

 

O que discos de rap lançados na primeira metade dos anos 2000 acabaram nos ensinando: trabalhos que vendem muito e contam com o apoio massivo do público e dos canais de televisão são predominantemente ruins e banais. Certo? Errado. Lançado em maio de 2002 The Eminem Show não apenas caiu nas graças do público, vendendo absurdos 7 milhões de cópias em um curto período de tempo, como arrancou os elogios da crítica, transformou o rapper de Michigan em um dos maiores ícones da música daquele período e conseguiu balançar de vez as estruturas da industria musical.

Se fosse possível definir o quarto grande registro em estúdio de Eminem (nascido Marshall Bruce Mathers III) em uma única palavra, ela com certeza seria “agressivo”. Dos versos sujos – que acabaram garantindo ao rapper acusações de homofobia e misoginia – ao som pulsante que se materializa em cada uma das 20 faixas do registro (algumas delas meras vinhetas), cada mínima fração do álbum é permeada pelo uso de sons e versos marcados pela dureza, temáticas muitas vezes incomodativas e em diversos momentos propostas até exageradas ou capazes de embrulhar o estômago dos espectadores.

Embora a sensação ao se deparar com o álbum fosse de completo ineditismo mediante a força brutal que o gerencia, dois anos antes Eminem já haviam experimentado as mesmas tendências com o lançamento do disco The Marshall Mathers LP, trabalho que de fato havia apresentado ao mundo a sonoridade do norte-americano. Contudo, oposto do álbum lançado em maio de 2000, em TES é visível um amadurecimento tanto na forma como os versos são trabalhos ao longo do disco (a acessibilidade e o conjunto de versos melódicos são perceptíveis), como a produção estrutural do registro, afastando definitivamente o rapper do caráter underground ou alternativo e o apresentando de vez ao grande público.

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Enquanto nos álbuns anteriores a temática abordada por Eminem através de seus versos sugeria uma espécie de regresso ao passado, ressaltando a origem humilde ao lado da mãe – o pai abandonou a família quando o Marshall ainda era criança -, com o quarto álbum o rapper abre as possibilidades para atacar em diversas direções. Sejam as boy bands no primeiro single do disco, Without Me, os problemas com a mãe em Cleaning Out My Closet ou os próprios Estados Unidos em White America, nada passou incólume aos versos anunciados pelo norte-americano.

Parte relevante do que garante sustentação e intensidade ao disco vem dos samples escolhidos a dedo por Eminem para a construção das faixas. Menos orientado pelas batidas e muito mais focado nas camadas de sons, o rapper e Dr. Dre (produtor executivo do disco e também responsável por grande parte do trabalho anterior) orientaram seus esforços para a captação de bases exploradas em cima de grandes pérolas do hard rock ou do rock clássico. Vem daí trechos de Dream On do Aerosmith em Sing for the Moment e We Will Rock You do Queen na poderosíssima Till I Collapse.

Extremamente elogiado, o álbum acabaria definindo fortemente os rumos do rapper, tanto que no trabalho seguinte, Encore (que em inglês pode ser compreendido como “bis”), Eminem volta fazendo uso das exatas mesmas experiências ressaltadas ao longo de The Eminem Show, apostando no mesmo projeto gráfico do álbum e surgindo como uma espécie de paródia de si próprio. A contribuição do artista, entretanto, já estava feita, e as palmas para o espetáculo do rapper continuam ecoando de maneira justa até hoje.

The Eminem Show (2002, Aftermath/Interscope)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: D12, Dr. Dre e Yelawolf
Ouça: White America

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.