Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 03/12/2011

Cut Copy
Australian/Electronic/Dance
http://cutcopy.net/

Por: Cleber Facchi

 

Cortar, copiar e colar. Fazendo uso exato dessa mesma estratégia os australianos do Cut Copy apresentaram ao mundo em 2004 o satisfatório Bright Like Neon Love, um álbum que mesmo transparecendo todas as imperfeições e desencontros de um disco de estreia parecia cumprir com todas as exigências de um trabalho do gênero. Dançante, detentor de um bom número de hits e marcado por uma instrumentação que parecia literalmente copiar os ritmos da década de 1980, o disco serviu para apresentar o até então trio vindo da metrópole australiana Melbourne, garantindo relativo destaque, porém nada que fosse para muito além disso.

Estudantes declarados dos ensinamentos gerados pela dupla Daft Punk e entusiastas dos sons propostos pelos britânicos do New Order, logo após o término da turnê de divulgação do álbum , o trio composto por Dan Whitford, Tim Hoey e Mitchell Scott partiria em busca da sonoridade que não apenas transformaria a carreira do grupo, como possibilitaria que a banda apresentasse posteriormente a maior obra de sua recente carreira. Acompanhados do mago Tim Goldsworthy – quem em 2003 havia auxiliado o The Rapture a lançar o surpreendente Echoes – a banda daria os primeiros passos rumo ao nascimento do conceitual In Ghost Colours.

Por mais que o velho ato de “copiar e colar” as referências exaltadas pela New Wave oitentista ainda fossem o elemento central do trabalho dos australianos, muito do que garante sustentabilidade ao poderoso segundo disco vem de tempos anteriores, muito antes da fluorescência dos anos 80 e possivelmente aplicados nas experiências lisérgicas da década de 1960. Em cada canto do registro é visível o nascimento de uma corrente musical que atravessa a psicodelia que entrecortou a década, absorvendo uma fina camada do que foram as grandes intervenções eletrônicas nos anos 70, até que a banda trilhe novamente as velhas sonoridades que lhes garantiram destaque.

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In Ghost Colours é um trabalho que se define logo na execução da primeira faixa. Mais do que um verdadeiro épico das pistas de dança, Feel the Love se materializa como uma grande síntese de toda a musicalidade do grupo. Enquanto as batidas sintetizadas mantêm uma conexão direta com o trabalho anterior, os teclados em ritmo ascendente correspondem a todas as novas experiências do trio. Sobra até para uma guitarra suingada no melhor estilo The Rapture (influência óbvia de Goldsworthy) surja para proporcionar reforço ao composto. Por fim, um jogo de teclados posicionados ao fundo puxa o espectador para a faixa seguinte, Out There On the Ice, tornando impossível que o espectador abandone o disco.

Sempre motivando o ouvinte por meio da somatória de versos harmônicos e uma naturalidade musical extremamente convidativa, o disco nos encaminha através de uma série de canções irretocáveis como Lights and Music e Hearts On Fire (a melhor do disco), montando um repertório que obviamente está muito além de um mero catálogo de sons para as pistas. Pontuado por pequenas vinhetas e introduções, o álbum vai aos poucos reverberando um caráter de obra fechada, como se a total compreensão do disco só fosse possível se observado como um todo.

Talvez se não fosse pelos vocais característicos de Dan Whitford, uma atenta observação entre o primeiro e o segundo trabalho dos australianos estabeleceria dúvidas se seriam aqueles registros vindos de uma mesma banda, ou se não seria o segundo disco fruto de algum grande veterano do cenário eletrônico. Independente dos resultados, ao termino do registro permanece uma única certeza: se antes o Cut Copy honrava o nome que ostenta, copiando e colando o que fora sucesso em tempos remotos, com In Ghost Colours eles não mais se resumiriam a meros plagiadores, mas seriam sim, base para futuras cópias.

In Ghost Colours (2008, Modular)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Miami Horror, Holy Ghost! e Midnight Juggernauts
Ouça: Hearts On Fire

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.