Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 17/12/2011

Hercules and Love Affair
Electronic/Disco/Nu-Disco
http://www.myspace.com/herculesandloveaffair

Por: Cleber Facchi

 

Se em 2001 as pistas do mundo todo foram bombardeadas pelo ascendente hit One More Time, transformando o Daft Punk no maior símbolo da eletrônica naquele ano, em 2003 foi a vez do The Rapture e o single House Of Jealous Lovers chamar as atenções.  Três anos mais tarde seria a vez de Over and Over dos britânicos do Hot Chip ditar as regras da música eletrônica, deixando para All My Friends do LCD Soundsystem essa mesma posição no ano seguinte. Mas em 2008, quem seria o responsável por assumir a direção de todas as pistas ao redor do globo? Ora, era preciso ser surdo (ou cego) para não perceber que todos os rumos naquele momento estavam nas mãos do Hercules and Love Affair e o monumental hit Blind.

Aos comandos magistrais do nova-iorquino Andy Butler uma sequência crescente de batidas, teclados, palmas, violinos e saxofones vão se posicionando de maneira épica, em uma espécie de enorme ode aos anos 90, revivendo todas as sensações e peculiaridades marcadas do cenário que se estabeleceu na cidade de Chicago naquele momento. Ao lado dele, a presença e a voz de Antony Hegarty (do projeto Antony and the Johnsons), utilizando do timbre melancólico de seus vocais para dar movimento à composição, estabelecendo o que seria apresentado a partir daquele momento o Hercules and Love Affair.

Mais do que o responsável por um simples hit, Butler resolveu não apenas apresentar a grande marca da eletrônica daquele ano em um único concentrado musical, mas em toda uma imensa obra, um tratado que resgataria a house music da década de 1990 e acrescentaria ali informações e sons raros ao trabalho por ele encabeçado. Ao lado do produtor, um número enorme de colaboradores, indivíduos que o auxiliaram na reprodução do som heterogêneo que caracteriza o trabalho, membros vindos de diferentes pontos do cenário do Brooklyn e que se transformariam em peças fundamentais para o amplo mosaico montado pelo nova-iorquino.

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Entre os principais contribuintes da obra está o britânico Tim Goldsworthy, responsável pela co-produção do álbum, bem como uma das principais mentes por trás da DFA Records (selo pelo qual o álbum foi lançado). Juntos, Butler e Goldworthy parecem ter encontrado a medida entre o pop e o conceitual, transformando as 10 faixas presentes no trabalho em criações voláteis, capazes de dialogar tanto com aqueles em busca de um som fácil e despretensioso, como pelos que estão em busca de uma sonoridade mais ampla e distante das convenções normais do cenário eletrônico.

Dentro dessa orientação dual, o trabalho acaba concentrando nos versos e na maneira como eles são melodicamente explorados o material destinado ao primeiro grupo de ouvintes, mantendo na sonoridade diversificada do álbum o agrado para o segundo grupo. Dessa forma, Butler e os parceiros vão se dividindo em uma sucessão marcante de criações inolvidáveis, músicas que desenvolvem tanto uma sonoridade genuinamente eletrônica e voltada para as referências iniciais do projeto (com You Belong como grande exemplo) como faixas envolvidas em uma veste distante dos entalhes sintéticos, algo que Time Will e Hercules’ Theme (com o bem explorado baixo dançante que marca todo o registro) evidenciam.

Presente nas principais listas e pistas de 2008, o álbum circularia com destaque em diversos cantos do cenário musical, consagrando o projeto como um dos mais inventivos e bem produzidos daquele ano. A boa repercussão do trabalho, entretanto, não garantiria ao grupo uma continuidade eficiente ao projeto, afinal, com Blue Songs, segundo registro do Hercules and Love Affair as mesmas exaltações do primeiro álbum seriam completamente reduzidas, com Butler se “protegendo” em um enorme autoplágio. Todavia, a Nu-Disco estava de volta, e o trabalho dos nova-iorquinos fora concluso.

Hercules and Love Affair (2008, DFA)

 

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Azari & III, Tiger & Woods e Jessica 6
Ouça: Blind

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.