Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 07/01/2012

Spoon
Indie/Alternative/Rock
http://www.spoontheband.com/

Por: Cleber Facchi

 

Quando a retomada do rock alternativo no começo dos anos 2000 arremessou diversos artistas independentes para o centro dos debates sobre a produção musical daquele período, não foram poucos os grupos que se aproveitaram do momento para adequar velhas características aos modernismos vigentes. Entre artistas que se perfizeram em vista do sucesso que rondava o rock indie, alterando velhos padrões em vista da música acelerado e da crueza artificial que se estabelecia naquele momento, alguns mantiveram ativa conexão sonora com o passado, produzindo registros genuínos e incrivelmente preciosos. Kill The Moonlight do Spoon é obviamente um desses exemplos.

Assim como The Moon & Antarctica do Modest Mouse e And Then Nothing Turned Itself Inside-Out do YoLa Tengo, o quarto registro em estúdio da banda de Austin, Texas é uma fina mostra do que fora o rock independente a partir da segunda metade da década de 1990, “tendência” que mesmo enfrentando as revoluções do novo século, mantiveram uma forte conexão com o passado recente da música norte-americana. Tudo soa como um eco hodierno, uma espécie de nostalgia ainda recente de quando a produção e distribuição analógica era o único método de consolidação e circulação para qualquer banda.

Construído em cima de uma estrutura musical visivelmente caseira e simpática – aspecto evidente muito mais por questões técnicas do que por escolha da banda –, o sucessor do também riquíssimo Girls Can Tell (lançado um ano antes) utiliza de melodias intencionalmente harmoniosas para criar toda a estética do trabalho. De fato, muito do que concentra a grande beleza da obra lançada em agosto de 2002 vem do registro anterior, álbum em que os integrantes da banda já haviam demonstrado toda a autenticidade e as formas sublimes de sua música.

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Apoiados em fórmulas tecnicamente simples, muito provavelmente o que garante beleza e concisão ao registro vem da mente coletiva dos integrantes, que além de tocar e compor em conjunto, acabam por dividir a produção do trabalho. Mesmo que seja Britt Daniel o responsável pela criação de (quase) todas as letras do disco, a aproximação entre os integrantes da banda (algo permanente até nos trabalhos atuais) é o que possibilita que versos muitas vezes simples e uma instrumentação convencional acabem contando com um toque distinto, talvez até inédito em meio a plasticidade musical que tomava conta daquele período.

Toda a instrumentação do registro é firmada em cima de três elementos claramente visíveis: as guitarras esbanjando riffs pegajosos, os teclados sequenciados e a bateria direta de Jim Eno. Mike McCarthy, produtor do disco (e de outros álbuns da banda) parece amontoar essa tríade de elementos de maneira inteligente e comercial, transformando cada canção do trabalho em algo realmente vendável e ao mesmo distante da vulgaridade musical que poderia ser encontrada em grande parte dos registros lançados naquele mesmo período. Dessa forma, desde os segundos iniciais de Small Stakes temos um registro inteiramente harmonioso e que mantém o ouvinte totalmente preso à obra.

Básico e livre de quaisquer artifícios exagerados, Kill The Moonlight e suas letras cativantes – muitas delas centradas em retratos cotidianos e recortes do passado do próprio Britt – acaba se materializando como um projeto justamente inovador e criativo, quebrando a linearidade de solos de guitarra acelerados e crus, além das letras pós-adolescentes que os Strokes e tantos outros cantavam naquele momento. Se originalidade é a base para o nascimento de um bom registro, então os membros do Spoon conseguiram alcançar o melhor resultado disso.

Kill The Moonlight (2002, Merge)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: The New Pornographers, Modest Mouse e Wilco
Ouça: Jonathon Fisk e Something To Look Forward To

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.