Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 14/01/2012

Franz Ferdinand
British/Indie Rock/Alternative
http://www.franzferdinand.co.uk/

Por: Cleber Facchi

 

Em 2004 o cenário musical vigente começava a se encaminhar para um resultado demasiado blasé, frio e pontuado pelas linhas de baixo frígidas que o revival pós-punk havia estabelecido. Os Strokes se consagravam por meio da crueza dos dois primeiros discos de estúdio, enquanto o Interpol se convertia em um novo fenômeno musical por meio das criações atmosféricas proclamadas dois anos antes em Turn on the Bright Lights, elementos que nem a impecabilidade melódica de Kill the Moonlight do Spoon ou os ecos dançantes do primeiro álbum do The Rapture conseguiam barrar.

Faltavam composições harmônicas, criações vigorosamente dançantes e músicas entalhadas em formas pop que não se entregassem aos desajustes tradicionais do gênero. O cenário carecia alguém que proclamasse faixas grandiosas, pretensiosamente comerciais e capazes de se desvencilhar das banalidades típicas desse tipo de som, algo que só viria em formas definitivas no mês de fevereiro de 2004, quando a sobriedade blasé seria finalmente derrubada pelas guitarras necessárias, os versos fáceis e toda a vastidão de elementos que pintam e caracterizam a homônima estréia do Franz Ferdinand.

Marcado pelas exatas mesmas referências que tanto definiam boa parte dos grupos em atuação naquele momento, a banda vinda de Glasgow, Escócia optou por experimentar um novo caminho, o da celebração. Nada da melancolia proclamada décadas atrás por Ian Curtis, para Alex Kapranos e seus parceiros, mesmo a mais triste das canções de amor deveria ser proclamada em meio ao uso de acordes pulsantes e um leve toque suingado que Andy Gill havia proclamado décadas antes através do Gang Of Four.

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Mesmo que um ano antes, através do EP Darts of Pleasure, a banda já estabelecesse boa parte das referências musicais e estéticas que viriam a ser exploradas por completo no ano seguinte – como a conexão visual com a escola de Bauhaus -, com a chegada oficial do disco no começo de 2004 todo um novo mundo de possibilidades estava aberto. Os teclados de Nick McCarthy escorrem por todo o álbum enquanto o baixo quente de Bob Hardy pulsa e se contrai de maneira perspicaz, possibilitando que as batidas de Paul Thomson garantam ritmo aos versos pegajosos inteiramente proclamados por Kapranos.

Utilizando o hit Take Me Out como chamariz para o trabalho, a banda esconde no interior da obra uma soma assombrosa de faixas marcantes, uma sucessão de dez outras composições dotadas da mesma simetria pop envolvente que o carro chefe do disco. A cada minuto explodem refrões grandiosos (This Fire), criações movidas pela ginga das guitarras (The Dark of the Matinée), batidas pulsantes (Michael) e até composições capazes de lidar com a calmaria e a despretensão de maneira cativante e bem modelada (Auf Achse).

Versátil, o trabalho não apenas possibilitou que a banda trafegasse com credibilidade pelo grande público – Take Me Out é provavelmente uma das faixas mais difundidas da última década -, mas angariando também elogios vindos do alto escalão de diversos críticos ao redor do mundo. Oposto de boa parte das bandas que surgiram naquele momento, o álbum não foi o primeiro e último suspiro de um grupo iniciante, mas o prelúdio de uma sequência de trabalhos sempre bem explorados, distintos e tão radiantes quanto o que é proposto no interior deste registro.

Franz Ferdinand (2004, Domino)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Kaiser Chiefs, Bloc Party e Kasabian
Ouça: Michael e This Fire
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.