Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 17/01/2012

Beck
Alternative/Indie/Singer-Songwriter
http://www.beck.com/

Por: Cleber Facchi

 Beck

Após a boa repercussão do disco Midnite Vultures de 1999, a melancolia viria a se abater sobre a sonoridade e a vida de Beck Hansen. Se antes a busca por um som funkeado, repleto de despojo e reverberações dançantes parecia definir os futuros rumos do cantor e compositor californiano, a partir do trabalho seguinte isso iria se inverter por completo. Nada dos teclados suingados ou linhas de baixo espessas que propiciavam um som repleto de groove ao trabalho do músico – naquela época profundamente influenciado pelos ritmos brasileiros -, com a chegada de Sea Change, tudo ira radicalmente se modificar.

O término com a ex-noiva Leigh Limon (com quem havia passado os últimos nove anos) acabou contribuindo para o catálogo de dolorosas composições que Beck acumularia no decorrer de dois anos. Um amontoado de faixas sempre guiadas pelo uso de harmonias vocais penosas, todas montadas em cima de bases acústicas que dialogariam com a música folk norte-americana – temática praticamente inédita em se tratando das anteriores composições do artista, sempre marcadas pelo misto entre o rock alternativo, o hip-hop e a proposta anti-folk.

Com as gravações marcadas para o final de 2001, Beck entrou em contato com o britânico Nigel Godrich (com quem havia trabalhado no álbum Mutations de 1998) para que este assumisse a produção do registro, entretanto, os atentados terroristas ao World Trade Center acabaram obrigando o cantor a adiar as gravações do registro, que só começou a ser captado em março do ano seguinte. Como resultado, o músico acabou influenciado pela temática sombria que se edificava naquele momento, fazendo com que a gravação do álbum fosse marcada pela melancolia e a sobriedade.

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Sempre instável e se apoiando em distintos ritmos, o californiano teve na direção de Godrich um sustento incontestável, afinal, o principal responsável por garantir uma funcionalidade latente ao disco – com todas as faixas instrumentadas de maneira próxima – é o britânico, e não Beck. Dos anseios entoados na quase-country The Golden Age ao tom sublime de Side Of The Road, no encerramento do trabalho, tudo transpira ao trabalho de Godrich, que assim como havia feito previamente com Radiohead (Kid-A e OK Computer) e Pavemente (Terror Twilight) garante linearidade à obra.

Com os limites estabelecidos, Beck tem a possibilidade de despejar todos os anseios que vinha acumulando, dissecando o antigo relacionamento de maneira sofredora, porém totalmente honesta. Dessa forma, o músico faz nascer uma sequência de composições que nada se assemelham aos anteriores trabalhos por ele anunciados, feito que transforma a audição de músicas como Lonesome Tears (com seus arranjos de cordas magistrais) e It’s All In Your Mind em uma experiência única tanto para o espectador como para o compositor, que rompe de forma interessantíssima com a figura que havia criado nos trabalhos passados.

Peça única na discografia de Beck – no trabalho seguinte, Guero (2005), o músico regressaria ao som proposto anteriormente -, Sea Change arrancaria do peito do californiano um composto lírico e instrumental que não se repetiria em posteriores criações. Quase unanimidade entre a imprensa musical (a Rolling Stone norte-americana deu cinco estrelas ao registro, enquanto a Pitchfork Media que previamente o havia criticado incluiu o álbum na lista dos 200 melhores discos da década de 2000), o oitavo disco de Beck é um trabalho que para além de um mero desabafo sentimental transborda sinceridade, beleza e versos que não apenas exprimem as dores do compositor, mas dialogam empaticamente com o ouvinte.

Sea Change (2002, Geffen)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: The Flaming Lips, Pavement e Cake
Ouça: Lonesome Tears

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.