Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 21/01/2012

The Hold Steady
Alternative Rock/Indie Rock/Rock
http://www.theholdsteady.com/

Por: Cleber Facchi

O mundo da música parecia se encaminhar rapidamente para um panorama de lançamentos excessivamente similares, discos plagiando a crueza acelerada dos Strokes ou trabalhos tomados por uma plasticidade musical insossa e irrelevante. Pelo menos era isso que uma infinidade de álbuns ao redor do globo reforçavam quando Separation Sunday, segundo registro da banda nova-iorquina The Hold Steady fora lançado. Longe do indie rock clichê que se evidenciava naquele momento, o álbum mergulhou profundamente no rock clássico e na cena alternativa do fim da década de 1980, proporcionando algo que mesmo conhecido do público, resultava em uma experiência nova ou inédita.

Enquanto harmonias de teclados naquele momento pareciam instrumentos para a produção de um som dançante e que ressaltava os tempos de glória da New Wave, nas mãos do grupo norte-americano não apenas estes instrumentos como todo um conjunto de outros elementos começaram a tomar “novo” rumo. Dos solos de guitarras volumosos (marcados pelos riffs) aos versos entusiasmados por crescentes refrões, tudo proporciona um tom nostálgico ao trabalho da banda, que parecia muito mais interessada em resgatar a boa música dos anos 60/70 do que ressaltar o pós-punk, naquele momento a base para quase todos os grupos do período.

Mesmo que um ano antes a banda já tivesse provado dessas mesmas experiências através do disco Almost Killed Me, é através da sonoridade grandiosa de Separation Sunday que tudo parece perfeitamente encaixado. A voz rasgada de Craig Finn – cantando sempre sobre redenção, álcool, drogas e a “musa” do grupo, a cidade de Minneapolis – passeia soberana sobre todo o trabalho, se encontrando com as guitarras competentes de Tad Kluber e os teclados/pianos de Franz Nicolay, instrumento que não apenas dá suporte aos vocais de Finn, como garantem sustentação ao restante da instrumentação do álbum.

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Por todos os lados são visíveis menções (mesmo que indiretas) ao trabalho de grupos como The Band, Bruce Springsteen ou demais propagadores da verdadeira música americana, algo que o clima épico de Stivie Nix e os solos fortes de Banging Camp ressaltam a todo o momento. Soma-se a isso um toque honesto de “banda de bar”, como se os nova-iorquinos, mesmo em estúdio, se mantivessem durante todo o tempo em um palco sujo de algum bar à beira da estrada ou qualquer outra espelunca em uma cidade de pequeno porte. Um ambiente sempre regado à cerveja e repleto de homens de meia idade que assoviam para as garotas na borda do palco.

Ao mesmo tempo em que reforça constantemente a ligação com o rock clássico, o The Hold Steady mantém firme a conexão com o rock alternativo pré-Nevermind, percepção óbvia na maneira como as guitarras do álbum pendem ora para um Hüsker Dü menos punk, ora para um Dinosaur Jr carente de distorções. Dessa forma, os nova-iorquinos conseguem reverberar tanto um som nostálgico como recente, sendo capazes de agradar tanto públicos distintos como publicações de linhas editoriais opostas – de Pitchfork à Rollings Stone, passando por The Guardian e Billboard, todos absorveram Separation Sunday como um trabalho unânime.

A boa forma do grupo não se manteria apenas nos mais de 40 minutos do trabalho, algo perceptível na sequência de lançamentos seguintes da banda. Separation Sunday seria apenas um prelúdio do que os nova-iorquinos viriam a desenvolver com o também elogiado Boys and Girls in America em 2006 (eleito ao lado deste como um dos melhores registros da década passada) ou no ainda criativo Stay Positive de 2008. Distinto, o álbum é ainda hoje a melhor conexão do presente com o que há de melhor na música do passado.

Separation Sunday (2005, Frenchkiss)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Drive-By Truckers, Titus Andronicus e Okkervil River
Ouça: Banging Camp
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.