Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 24/01/2012

The New Pornographers
Canadian/Indie Rock/Alternative
http://thenewpornographers.com/

Por: Cleber Facchi

 

De maneira geral, coletivos musicais são a deixa para que um único indivíduo brilhe solitário em virtude do resultado gerado em parceria. Afinal, quantos não são os projetos em que um músico de destaque – amparado por uma gama de outros instrumentistas – recebe solitário todos os louros de uma produção? Se esta é a lógica para boa parte de projetos do gênero, pelo menos para os canadenses do The New Pornographers ela se faz inválida, percepção constatada tanto nos recentes lançamentos do coletivo, como na estreia da banda em novembro de 2000, quando veio ao mundo o decidido Mass Romantic.

Do instante em que começa até os últimos ruídos, o primeiro álbum do coletivo vindo de Vancouver, Canadá é uma sucessão de encontros e distintas experiências que se cruzam. Com vocais divididos entre três vocalistas – A.C. Newman, Neko Case e Dan Bejar – e uma pluralidade de instrumentistas, o registro se encaminha a todo instante para um resultado vasto, concentrando cada uma das mínimas referências prévias dos integrantes e as adaptando em um indie rock melódico, hora pendendo para as harmonias típicas do Power Pop sessentista, ora caindo no rock alternativo do começo da década de 1990.

Gravado ao longo de três anos, o registro inicialmente seria uma espécie de refúgio não comercial para todos os integrantes, afinal, boa parte deles ainda participavam ativamente de algumas bem sucedidas bandas canadenses – como Thee Evaporators, Zumpano, e Destroyer. O resultado final da primeira canção gravada, entretanto, acabou convencendo os componentes do grupo, que começaram a se revezar na produção de uma série de outras criações, todas embarcadas pelo mesmo ritmo contagiante e entusiasmado da primeira faixa, mote que garantiu toda a excelência do primeiro álbum do grupo.

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Espécie de conexão entre as produções independentes que movimentaram toda a década de 1990 e o cenário musical que começava a se estabelecer naquele momento, Mass Romantic presenteia o ouvinte com uma série de guitarras suavemente poluídas pela distorção, enquanto as vozes doces dos integrantes acabam apontando para uma direção totalmente oposta. Dentro desse jogo dicotômico surgem 12 composições, faixas que para além de apostar em temáticas cotidianas em romantismos exagerados surgem perfumadas por um toque de nonsense, proporcionando leveza e identidade ao trabalho.

Ao mesmo tempo em que a banda preza pela execução de um registro alheio aos padrões comerciais – e até distinto aos ritmos que definiam as carreiras particulares de cada um dos componentes da banda -, o álbum encaminha o grupo em diversos momentos para um resultado intencionalmente comercial e fácil. Os refrães pegajosos e a sonoridade graciosa de músicas como Letter from an Occupant, Mystery Hours e demais canções do disco transformam o trabalho em algo totalmente acessível e pensado para os mais distintos públicos, feito que transformaria a banda imediatamente em um pequeno novo fenômeno da música indie – obtendo boa repercussão, mas se mantendo sempre .

Prévia de uma sucessão de bons discos – logo em sequência a banda apresentaria os também memoráveis Electric Version (2003) e Twin Cinema (2005) -, Class Romantic é a mostra mais concisa de como se organiza um eficiente coletivo musical. Cada integrante parece assumir de forma ímpar uma extensão do registro, que ao ter todos os pedaços conectados resultam em um tratado interessantíssimo e musicalmente completo. Se antes o The New Pornographers era apenas um refúgio passageiro para algumas das principais mentes da música canadense, depois deste álbum ele se transformou na morada definitiva para estas mesmas pessoas.

Mass Romantic (2000, Mint)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: A.C. Newman, Destroyer e Neko Case
Ouça: Letter from an Occupant

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.