Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 25/01/2012

Phoenix
French/Indie Pop/Alternative
http://www.wearephoenix.com/

 

Por: Cleber Facchi

 

Em mais de cinco décadas de produções constantes e reformulações diárias proclamadas pela indústria fonográfica, a música pop tal qual pensamos conhecer já se modificou e atingiu níveis e formatos inimagináveis. Se em épocas passadas tal sonoridade talvez fosse um mecanismo inteligente de rebeldia e identidade contestadora para alguns jovens (vide a produção musical da década de 1960), hoje a música pop talvez seja uma nomeação até ofensiva para caracterizar determinados projetos, feito que a banalização do gênero ao longo dos anos acabou contribuindo de maneira inegável.

Todavia, estranho não observar o quarto álbum da banda francesa Phoenix como um genuíno e bem explorado disco de música pop. Versos fáceis (e repetidos à exaustão), solos de guitarra grudentos, acordes límpidos, uma produção impecável e refrães, principalmente os refrães, tudo se orienta de maneira a fisgar o ouvinte através de uma única audição. Divertido até no nome – Wolfgang Amadeus Phoenix, uma sátira/homenagem com o nome do compositor alemão Mozart – o registro concentra em apenas dez faixas todo o poderio do quarteto francês, que ao longo de 37 minutos faz nascer o melhor disco de música pop da década passada.

Lançado em um ano em que uma boa soma de artistas apresentava seus melhores registros em estúdio – Animal Collective com Merriweather Post Pavillion e Dirty Projectors com Bitte Orca, apenas para ilustrar -, o quarteto ainda teve de rivalizar com relativo esforço para superar a vertente de novos grupos, como Girls, The XX e Real Estate que tomavam o mundo da música naquele momento. Entre experimentos, melancolias diluídas e a retomada do lo-fi, acabaram se sagrando aqueles que investiram na acessibilidade, feito que a irritante e genial Liztomania, a desenvoltura de Rome e os refrães de 1901 justificam em curtos segundos.

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Mais do que um mero condensado de composições fáceis – em diversas entrevistas Thomas Mars, vocalista e principal compositor do grupo já afirmou que adora utilizar frases melódicas e versos que “soam bem” de maneira repetida -, o álbum não escapa de se embrenhar em pequenas doses de experimentação. É o caso da extensa Love Like a Sunset, que se afasta totalmente da premissa fácil e contagiante do trabalho para afundar o quarteto em mais de sete minutos da mais pura experimentação instrumental, intercalando sintetizadores e ruídos de forma hipnótica e abstrata.

Embora os louros tenha se voltado todos para a hábil desenvoltura do quarteto, muito do que proporciona a beleza e a excelência do trabalho escapa diretamente da produção de Philippe Zdar. Uma das metades do projeto de música eletrônica Cassius e também responsável pela produção do primeiro disco da banda (United, 2000), o produtor consegue amarrar todas as pontas soltas que o Phoenix vinha deixando com o lançamento dos últimos trabalhos, mantendo uma linearidade que vai da abertura até o encerramento com Armistice, barrando o nascimento de quaisquer possíveis excessos no interior do trabalho.

Genuinamente pop, Wolfgang Amadeus Phoenix talvez seja a conexão mais sólida com a música pop produzida há mais de cinco décadas, algo que o grupo justifica durante toda a execução do trabalho sem exageros e com visível maturidade. A presença ativa de algumas faixas durante todo o ano de 2009 (ou mesmo os anos seguintes, como é o caso do hit Liztomania) apenas reforçaram a consistência do disco, que para além das banalidades do gênero em que está obviamente relacionado, acaba se revelando como uma base séria para qualquer artista que busque explorar a mesma temática.

Wolfgang Amadeus Phoenix (2009, V2/Loyauté/Glassnote)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: The Whitest Boy Alive , Passion Pit e Tahiti 80
Ouça: o disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.