Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2012

The Books
Experimental/Indie/Electronic
http://www.thebooksmusic.com/

Por: Cleber Facchi

 

Estranheza. Inicialmente esta é a principal sensação que se manifesta durante a audição de qualquer trabalho da dupla nova-iorquina The Books. Uma estranha e constante percepção de incompatibilidade, como se as batidas, samples e intervenções acústicas que entrecortam o trabalho não fossem orientadas de maneira natural aos ouvidos. Entretanto, mesmo dentro desse caleidoscópio de sons e sensações, quanto mais nos afundamos nas construções musicais do duo, mais somos tragados para dentro desse diferente universo, algo que o primeiro trabalho da dupla Thought For Food evidencia por meio de um conjunto de referências sonoras nunca lineares ou convencionais.

Pegue por exemplo All Bad Ends All, terceira faixa do álbum lançado em 2002 e canção que inicialmente abre em meio a acordes quase voltados ao blues, batidas até acessíveis e uma pequena camada de ruídos plásticos. À medida que a faixa de exatos 2:42 minutos se desenvolve barulhos de pratos se quebrando, vozes recortadas de diferentes fontes, sons que crescem e decrescem e toda uma vastidão de elementos vão expondo toda a variedade de experimentos da dupla, temática que permanece assim até o encerramento do disco.

Thought For Food, entretanto, está além de um mero condensado de estranhas formas musicais ou ruídos abstratos, é um trabalho que embaralha todos estes diversos elementos (muitos deles distantes entre si) e os converte em música. Se durante a faixa de abertura Enjoy Your Worries, You May Never Have Them Again somos introduzidos aos estranhos experimentos do duo composto por Nick Zammuto e Paul de Jong, com a chegada de Deafkids, no encerramento do trabalho não apenas estamos acostumados às invenções dos dois músicos, como queremos permanecer por mais algumas horas dentro do infinito particular dos nova-iorquinos.

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Por mais que o trabalho esbanje originalidade, parte significante do que a dupla produz vem diretamente de outros influentes projetos surgidos anos antes. Por tratar-se de um projeto dicotômico – ora pendendo para a música folk, ora para a eletrônica -, é possível observarmos dois grupos de influências bem marcantes no trabalho da banda. Enquanto a tonalidade orgânica do trabalho (que inclui a utilização de violinos, violoncelos e até banjos) aponta para inúmeras direções, o lado sintético da obra esboça referências mais bem delimitadas.

Os samples ruidosos e as ambientações lo-fi instáveis dialogam diretamente com o que a dupla Mike Sandison e Marcus Eoin do Boards Of Canada vinha desenvolvendo, trabalhando a IDM de maneira particular, e consequentemente, inventiva. Dentro dessa fração eletrônica é possível ainda observarmos outra clara influência, principalmente relacionada ao uso de colagens constantes de vozes e sons ambientes, algo Richard David James (Aphex Twin) vinha desenvolvendo com habilidade ao longo de todos os anos 1990, refletindo em diversos momentos no interior deste trabalho.

A necessidade em se aventurar pelas estranhas criações da dupla viria logo no ano seguinte, com a chegada de The Lemon of Pink, espécie de continuação direta das mesmas experiências e sonoridades trabalhadas ao longo do primeiro disco. Contudo, mesmo rico em detalhes e passeios instrumentais diversos, permaneceria Thought For Food como o melhor trabalho dos norte-americanos, sendo não apenas o mais seguro registro de Zammuto e Jong, como um dos projetos mais inovadores da incipiente folktrônica, gênero que parecia ganhar verdadeiro sentido nas mãos da dupla.

Thought For Food (2002, Tomlab)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Boards Of Canada, Bibio e Four Tet
Ouça: Motherless Bastard

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.