Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 10/07/2012

No Age
Noise Rock/Experimental/Indie Rock
https://www.facebook.com/noage

Por: Cleber Facchi

A proposta de um duo de rock tradicional nunca esteve nos planos de Randy Randall e Dean Allen Spunt. Figuras conhecidas da cena californiana, a dupla vinha desde o começo da década de 2000 se revezando em uma série de projetos paralelos, a maioria deles bandas com um foco na música punk, noise ou hardcore, sendo o power trio Wives o mais bem sucedido deles. Mesmo que o grupo tenha durado apenas três anos, o projeto serviu como grande embrião para o que os dois instrumentistas viriam a desenvolver dali alguns anos, proposta que tomaria formas bem definidas a partir de um convite do artista plástico Rich Jacobs para que o duo se apresentasse em uma de suas exposições em Los Angeles.

Com uma estrutura essencialmente experimental e mais ruidosa do que define o grupo hoje, quem esteve na apresentação da ainda inominada banda pôde ter um grande resumo do que seria desenvolvido nos próximos meses. O casamento simples entre a guitarra distorcida de Randall e a bateria barulhenta de Allen Spunt (que também assumia os vocais) serviria de base para uma série de EPs e singles que o duo lançaria ao longo de todo o ano de 2007, todos sob a alcunha de No Age, material que seria posteriormente agrupado e lançado em um único registro, o “debut” Weirdo Rippers. Anárquico, o trabalho seria apenas um aquecimento para o que a dupla já vinha preparando para o começo do ano seguinte com o barulhento segundo disco, trabalho que realmente mostra em que consiste a força dos californianos.

Com pouco mais de 30 minutos de duração, Nouns (2008, Sub Pop) é um sincero exemplar de quase três décadas do puro rock californiano. Do garage rock à explosão do movimento punk no final da década de 1980, passando pelo hardcore e o noise rock que definiram os anos 90, cada instante do trabalho remete diretamente a uma série de registros que tanto caracterizaram a produção norte-americana de diferentes épocas. Entretanto, antes de soar como uma ruidosa ode à uma série de grupos ou gêneros, a metamorfose ruidosa que habita em cada uma das faixas do intenso disco impedem que sinais primários, influências ou bases sejam de fato percebidos. É como se a banda fosse única criadora de todos os sons e tendências que se abrigam no decorrer de cada faixa.

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Naturalmente mais organizado e conciso que o primeiro lançamento da dupla, Nouns é um trabalho que flerta durante toda a extensão do registros com vozes mais amenas e instrumentações melódicas, proposta que bem define toda a primeira metade do álbum. Mesmo ainda imersos em ruídos e construções sonoras que se desprendem de um resultado plástico, a todo o instante surgem faixas acessíveis e que se permitem conduzir pelo uso de vozes pegajosas, proposta bem definida na dobradinha Eraser e Teen Creeps, composições que praticamente clamam por um entendimento mais radiofônico e comercial, temática bem visível no encaixe preciso entre os vocais fáceis e as guitarras que sujas que crescem do princípio ao fim.

Ao mesmo tempo em que o trabalho deixa fluir uma maior aproximação com o “pop” nos minutos iniciais, com a chegada de Errand Boy, oitava canção do disco, temos uma completa inversão de padrões, resultado que mais uma vez aproxima a dupla da sonoridade experimental e inventiva que tanto definiu o primeiro disco. Diferente dos momentos iniciais, em que há uma tentativa natural de “soar fácil”, a segunda metade do registro deixa fluir a proposta ruidosa que apenas amplia os limites e técnicas da dupla. Tudo é ruidoso, instigante e nada comercial, estratégia que bem define as ambientações de Impossible Bouquet (uma continuação amena de Things I Did When I Was Dead) ou as gritarias de Ripped Knees, músicas que por vezes arrastam a dupla de volta para a anarquia com o Wives ou mesmo as primeiras apresentações como No Age.

De forma não intencional, Nouns e até o antecessor Weirdo Rippers acabaram servindo como registros de base para uma série de outros projetos que em 2008 viriam embarcados pela mesma proposta barulhenta e experimental. Da temática Lo-Fi de Rip It Off do Times New Viking, passando pelo registro de estreia do Titus Andronicus, o debut do Vivian Girls ou mesmo a obra dupla do Deerhunter (Microcastle/Weird Era Cont.), todos pareciam de alguma forma se inspirar nos mesmos acertos da dupla  Randall e Allen Spunt. Inventos que intencionais ou não definiriam o lançamento de registros além daquele ano, trabalhos que ainda hoje encontram na produção da dupla ferramentas e a inspiração necessária para inovar ainda mais.

Nouns (2008, Sub Pop)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Male Bonding, Women e Deerhunter
Ouça: Teen Creeps, Cappo e Things I Did When I Was Dead

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.