Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 19/02/2013

Belle and Sebastian
Indie/Alternative/Indie Pop
http://sants.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Belle and Sebastian

Desde o primeiro disco que o Belle and Sebastian vem se revelando como uma brincadeira divertida entre os versos sarcásticos/cotidianos de Stuart Murdoch, e a carga instrumental diversificada que reflete a presença de cada companheiro de banda. Não por acaso If You’re Feeling Sinister (1996), mais influente obra do coletivo escocês, se apresenta como o ponto de maior aproximação e natural beleza entre esses dois elementos. Um passeio melódico que abraça as líricas quase descritivas de Murdoch e um cardápio tão variado de elementos instrumentais que praticamente mergulharam a banda em uma década de lançamentos copiosos e pouco inventivos em relação ao brilhantismo do elogiado registro.

Curioso perceber que o que trouxe renovação ao trabalho do grupo foi justamente o uso das mesmas melodias de outrora, não como um exercício redundante e copioso, mas de pura transformação. Trabalhado em cima de composições recheadas por um acabamento agridoce, The Life Pursuit (2006, Rough Trade/Matador) é a obra que de fato marca a atuação do grupo britânico nos anos 2000. Livre dos excessos que marca a sequência Fold Your Hands Child, You Walk Like a Peasant (2000), Storytelling (2002) e Dear Catastrophe Waitress (2003), o registro brinca de forma adulta com o pop, sem abandonar em nenhum momento a sonoridade rica que caracteriza a produção da banda no passado.

Primeiro trabalho em parceria com o produtor Tony Hoffer (substituto do velho colaborador Tony Doogan), o disco mantém até os últimos instantes a construção de uma musicalidade leve e que caracterizaria os trabalhos seguintes da banda. Dentro dessa formatação, mesmo que as letras assinadas por Murdoch assumam uma fluidez simplista e de assumida relação comercial, não há como negar que a capacidade de atrair o ouvinte em uma primeira audição é até maior do que aquilo que marca os primeiros discos. Se por um lado a transformação distanciou velhos seguidores, por outro a manifestação de um som despojado serviu para apresentar o grupo a todo um novo grupo de novos ouvintes.


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Contrariando a musicalidade branda que se concentrava em reviver experiências do Chamber Pop e realces instrumentais típicos da discografia do The Smiths, com The Life Pursuit o grupo permite a modernização dos sons que preenchem o trabalho. Ainda que de forma ponderada, sintetizadores e pequenas batidas eletrônicas se aproximam dos vocais e toda a musicalidade rica que flutua pela obra, resultado capaz de relacionaro trabalho da banda com o presente sem se desligar do que fora conquistado uma década antes. Dentro dessa verve de cores e sons, fica mais do que claro que em um ano marcado pelo destaque de novos artistas independentes, entre eles The Pipettes, Peter Bjorn and John e Lily Allen, é na reformulação da banda escocesa que mora o verdadeiro acerto e a real novidade.

Lançado em uma época em que o revival Pós-Punk ainda se mantinha em alta, o álbum, e mais especificamente faixas como Another Sunny Day e White Collar Boy, firmaram um curioso contraste com a cena vigente, além de um elo natural com o Britpop dos anos 1990. Ora capaz de brincar com o Blur da fase Parklife (1994), ora se deliciando com as exatas referências que marcaram a construção de  If You’re Feeling Sinister, o trabalho dança pelo tempo, fixando vez ou outra moradia em algum período específico. Mais do que isso é nítida a percepção de que mesmo íntimo de um volumoso jogo de cores e ritmos, o trabalho preza pelo ineditismo, como se Murdoch e os parceiros de banda descobrissem um vale imenso de segredos musicais.

Com uma assumida relação lírica e instrumental entre as faixas, The Life Pursuit usa de cada composição como um estímulo para a canção seguinte. É como se o encerramento de uma faixa servisse de base para o que é resolvido logo na música seguinte, reforço que impulsiona a atuação da banda até os últimos instantes do trabalho. Mesmo que diversos traços estabeleçam uma relação de proximidade com os primeiros álbuns, a proposta do grupo no decorrer do disco é completamente outra, quase como uma outra banda, o que talvez explique de maneira bastante clara como o Belle and Sebastian voltou ao topo.

Belle and Sebastian
The Life Pursuit (2006, Rough Trade/Matador)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Jens Lekman, The Smiths e Camera Obscura
Ouça: Another Sunny Day e White Collar Boy

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.