Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 15/02/2011

Supercordas
Brazilian/Psychedelic/Indie
http://www.myspace.com/supercordas

Assim como existe a primeira experiência sexual, o primeiro provar de substâncias lisérgicas, o primeiro beijo e diversos outros momentos que ficam marcados por serem… Os primeiros, também existe a primeira audição de Seres Verdes ao Redor (2006), o trabalho de estreia oficial dos cariocas da Supercordas. E por mais que existam palavras, frases e significado para sua descrição, muito melhor é senti-lo.

Quem já acompanhava os primeiros lançamentos da banda, como A Pior das Alergias (2003), Satélite no Bar (2004) ou mesmo as apresentações ao vivo do grupo, já sabia que não tardaria até a banda entregar um trabalho cada vez mais apoiado em sinestesias, viagens psicodélicas e dotado de um lirismo cada vez mais impressionante. Eis que naquele ano de 2006 chega Valentino (baixo, guitarra, programações, violão e voz), Pedro Campos Franke (guitarra, piano, programações, teclado e violão), Digital Ameríndio (bateria, voz), Kau? Ravaneda (guitarra e teclados) e Giraknob (programações e guitarra) munidos não apenas de um novo álbum, mas portando uma obra-prima em mãos.

Boa parte dos veículos de comunicação, o elegeriam como um dos melhores daquele ano, feito que se intensificaria em 2010 com a eleição dos melhores da década, em que mais uma vez a estreia dos cariocas marcaria presença como um dos trabalhos mais relevantes no cenário nacional. Mas onde mora a beleza dentro desse disco? Ora, em tudo. Cada segundo, cada verso, em todos os acordes, reverberações, sons captados da natureza, nos vocais em coro, no coaxar dos sapos e até no cheiro de terra molhada ou naquela luz matinal que verte do álbum. Seres Verdes ao Redor (música para samambaias, animais rastejantes e anfíbios marcianos) é um trabalho deliciosamente leve e construído com cuidado.

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Não apenas o rock psicodélico dos anos 60 e 70 marca presença na construção desse disco. Há um desbravamento do rock rural, gênero explorado no Brasil no início da década de 1970 por gente como Milton Nascimento, Lô Borges e Sá, Rodrix e Guarabira. Há elementos da música folclórica, elementos arcadistas, bucolismo e esse constante embate entre o urbano e o rural.

Se na sonoridade a banda esbanja virtuosismos, nas letras o resultado é ainda mais satisfatório. As canções falam de lugares mágicos, “lilases pétalas” que descem do céu, elementos oníricos, “estradas de açafrão”, sapos, borboletas azuis e uma infinidade de cores, formas e histórias que vão sendo contadas no decorrer do disco. As letras chegam graciosamente bem moldadas e fluem dentro de uma linguagem, que se não fosse a composição com a eficaz sonoridade do grupo, talvez não tivesse a mesma coerência.

Os Supercordas são uma das poucas bandas nacionais que conseguem se embrenhar por composições psicodélicas sem que cheguem a soar como os clichês dos hippies contemporâneos. É um som moderno, mas que se aventura pelas nuances do passado e sabe coletar os melhores ensinamentos disso. Seres Verdes ao Redor é um trabalho feito para ser apreciado na imersão dos fones de ouvido, deitado na grama ainda molhada pelo orvalho matinal, a fim de ser ao máximo apreciado.

Seres Verdes ao Redor (2006)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Cérebro Eletrônico, Mopho e Bonifrate
Ouça: Sobre o Frio

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.