Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 16/02/2011

Mundo Livre S/A
Brazilian/Manguebeat/Alternative
http://www.myspace.com/mundolivresa

Fred Zero Quatro e seu Mundo Livre S/A ao lado de Chico Science e Nação Zumbi fizeram com que a música brasileira nos anos 90 recebesse uma nova carga de entusiasmo. O Manguebeat e toda a mistura musical proposta por esses agitadores culturais de Recife fez com que o rock casasse com o samba, o hip-hop se encontrasse com o maracatu e o eletrônico se unisse ao orgânico. Caranguejos com antenas em suas costas, mangue transmitindo informação, música feita com acendimento e criatividade. O trabalho de Zero Quatro já estava escrito na história, seus discos lançados na década de 1990 já haviam contribuído e muito para o cenário musical, mas o grupo não poderia adentrar os anos 2000 sem deixar mais uma prova de sua inventividade.

Lançado pelo extinto selo Abril Music, Por Pouco (2000) é mais uma singela mostra da excelência do grupo recifense e suas aventuras pela música. Quarto trabalho de estúdio da banda – precedido por Samba Esquema Noise (1994), Guentando a Ôia (1996) e Carnaval na Obra (1998) – pode-se dizer que esse é o trabalho mais acessível do grupo. Diferente do conceito mais hermético aplicado no trabalho anterior de 1998, esse novo álbum se apoiava na construção de faixas menos voltadas para o rock e mais pensadas no samba, muito clara presença de Jorge Ben Jor, Tom Zé e um pouco de Gilberto Gil por detrás das criações da banda.

Há, entretanto alguns picos de rock esporadicamente divididos pelo álbum. A politizada Concorra a um carro é uma dessas faixas em que a guitarra chega direta e afundada em uma levada Ska-punk no melhor estilo The Clash. O álbum também entrega a funkeada Batedores com os vocais declamados de Zero Quatro mais uma vez tratando sobre a sociedade de consumo, tema que se apodera de boa parte das faixas desse álbum.

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Contudo é quando se apoia no uso de sambas marotos que o álbum alcança seus melhores momentos. Começa com Mistério do Samba, um sambinha eletrônico em que Fred discute as origens e a quem pertence o estilo. Chega o quase pagode Mexe Mexe, uma música convidativa em que Zero Quatro trata de maneira despretensiosa sobre a vida e como aproveitá-la. Vem a sedutora Melo das Musas, que em composição com o ritmo dançante se transforma no momento mais extasiante e quente do álbum. Tem também Super Homem Plus e Lourinha Americana, essa tratando sobre a relação que os Estados Unidos têm contra as pessoas que tentam adentrar seu território.

Se o samba estava bom até aí, Minha Galera com jeitão de gafieira vem para jogar o disco ainda mais na dança. Fred que chega puxando um cordão que exalta maconha, bebidas, mulheres e tudo que há de bom na vida (dele), logo ganha o acompanhamento de um coro de vocais femininos em que fica praticamente visível a rodinha de amigos munidos de cavaquinho, pandeiro e boas doses de cerveja para refrescar enquanto segue a música.

Até Tom Zé chega para dar o ar da graça em 6:30AM, um abraço!, faixa feita unicamente de uma mensagem de voz do próprio deixada na secretária eletrônica de Fred Zero Quatro. Talvez o único problema do disco seja a versão dada à Garota de Ipanema. O clássico de Tom Jobim e Vinícius de Morais chega de maneira embaraçada pela voz desafinada do vocalista. Porém, depois de tantas excelentes composições é sim possível relevar.

 

Por Pouco (2000)

 

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Nação Zumbi, Otto e Eddie
Ouça: Melo das Musas

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.