Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 26/02/2011

BNegão e os Seletores de Frequência
Brazilian/Hip-Hop/Dub
http://www.myspace.com/seletores

Por: Cleber Facchi

Depois que as divergências entre os integrantes do Planet Hemp deram fim à banda em 2001 seus integrantes partiram para a criação de inúmeros projetos musicais. Marcelo D2 deu sequência a uma bem sucedida carreira solo, Bacalhau ainda nos anos 90 foi tocar bateria ao lado de Gabriel Thomas no Autoramas, enquanto BNegão que já participava do grupo carioca The Funk Funkers lançou em 2003 seu primeiro trabalho solo ao lado dos Seletores de Frequências, um compendio de múltiplos estilos sempre entrelaçados pelos versos politizados do rapper.

Enxugando o Gelo (2003) traz um BNegão dono de uma poesia refinada e que destila criticas sociais sem soar ingênuo ou repetitivo. Nas letras que desmistificam a imprensa, o crime e (principalmente) os políticos o rapper e seus parceiros Paulão MC (Voz), Pedrão Selector (Trompete e voz), Gabriel Muzak (Guitarra e voz), Nobru (Baixo), Robson Vinttage (Bateria) e DJ Rodrigues (samplers) não poupam esforços para unir ritmo e poesia com distinção.

Está completamente enganado quem pensa que pela longa carreira de BNegão se aventurando nos versos seria apenas o hip-hop o elemento predominante no álbum. Do Reggae ao Hardcore, do Funk ao Dub ou do Rap ao Rock, cada faixa esmiúça com fineza inúmeros estilos, mostrando a maturidade e a desenvoltura de seus membros. Basta observar Nova Visão, a faixa começa com um baixo e guitarra funkeados, enquanto o rapper desce seus versos sem poupar ninguém, logo um bem incluso arranjo de metais vem para dar ares jazzísticos à composição. Como se não bastasse os músicos abrem espaço e deixam que uma levada de dub assuma os domínios da canção.

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Tudo muito parado? Então que tal A Verdadeira Dança do Patinho, com a banda misturando hip-hop, funk e Heavy Metal (!). Ainda muito suave? Ouça então Qual é o seu nome?, com os seletores de frequências destilando um hardcore furioso criticando a polícia. Claro que há também momentos puramente delicados dentro do disco. Ho Hay é uma dessas faixas. Se valendo do Jazz, bossa nova, samba e grupo entrega uma suave canção instrumental, que se distingue por completo das demais faixas raivosas do álbum. O disco conta ainda com a participação de Sabotage na faixa Dorobo, um dos últimos registros do rapper assassinado naquele mesmo ano.

Para o lançamento do álbum BNegão optou por um método ainda inusitado no país naquele período. Enquanto o Brasil se encaminhava para uma maior acessibilidade à banda larga, o rapper distribuía gratuitamente o disco em sua página na internet, sendo um dos primeiros compactuar com o método Creative Commons.

O álbum teve uma aceitação mais do que merecida tanto por parte da crítica nacional como em âmbito internacional. Enxugando Gelo ganhou o Prêmio Dynamite de música independente na categoria de melhor disco de Rap/Black Music daquele ano. Em 2004 através do prêmio Orilaxé concedido pela ONG Afro-Reggae o músico ganharia mais uma recompensa dessa vez como melhor voz da Black Music.

Enxugando Gelo (2003)

Nota: 8.9
Para quem gosta de: Black Alien, Sabotage e Planet Hemp
Ouça: Enxugando Gelo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.