Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 27/02/2011

brincando de deus
Brazilian/Indie/Alternative Rock
http://www.myspace.com/brincandodedeus

 

Por: Cleber Facchi

Talvez o brincando de deus (tudo minúsculo mesmo) seja uma das bandas brasileiras mais surpreendentes dos últimos anos. Enquanto a Bahia inteira se encaminhava para a explosão do Axé Music no começo dos anos 90, quatro malucos (não há outra definição) se lançaram na criação de músicas inspiradas em um tipo de som completamente alheio a tudo que circulava no país naquele momento. Ao invés de darem vazão a um som nacionalizado e colorido pelas inúmeras tonalidades da música brasileira, os quatro baianos foram atrás do que havia de mais recente nos sons do exterior, se aventurando de maneira corajosa por um terreno pouquíssimo explorado até então em terras tupiniquins.

Better When You Love Me e Running Live on Your Mind (Ao Vivo) traduzem com propriedade toda a força do grupo, além de suas inúmeras e inventivas nuances sonoras. É o tipo de som, que mesmo feito em território nacional compactuaria tranquilamente com o que estava em voga naquele momento, seja em algum subúrbio londrino ou em algum bar obscuro de Nova Iorque, o fato é que a banda trabalhava com um som universal, pelo menos dentro do cenário independente daquele momento.

Se com esses dois discos a banda já teria um espaço significativo na recente história do rock nacional, com o terceiro álbum de estúdio lançado em meados dos anos 2000, o grupo de Salvador romperia até seus próprios limites. Com produção de André T. (que já havia produzido trabalhos das bandas Brinde e Cascadura) o homônimo álbum do brincando de deus consegue sintetizar com primazia todo o universo de referências que constroem o plano de fundo do grupo.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=pe-mSxgFD9s?rol=0]

Composto por 14 faixas o disco reúne todas as influências externas, assim como o anterior resultado alcançado nos demais discos da banda e condensa tudo, adornando com uma acessibilidade pop. O resultado fica visível através de faixas como Música, em que o indie rock, as camadas distorcidas no melhor estilo shoegaze e um refrão pegajoso assumem a direção do começo ao fim. O mesmo vale para Clap Your Hends, essa dando um maior favoritismo às guitarras e mesclando elementos que vão do rock psicodélico à música eletrônica.

Pela primeira vez a banda também se apresenta cantando trechos em português, algo até então inédito nos dois trabalhos anteriores. Faixas como O Livro de Rilke chegam em alto e claro idioma nacional, mesmo que seja entrecortando longos versos em inglês. Diferente do primeiro álbum, aqui as canções chegam de maneira muito mais límpida e audível, o que não desmistifica a aura lo-fi do debute do grupo.

Embora a banda nunca tenha assumido seu término, há mais de dez anos que nada novo do brincando de deus é lançado. Entre apresentações esporádicas que eventualmente fazem a felicidade dos fãs nostálgicos e a eterna promessa de um DVD com um documentário sobre o grupo, existe também a possibilidade de um quarto trabalho de estúdio. Com toda a credibilidade que circunda a tríade de discos do grupo é de se esperar que tenhamos mais um belo lançamento. Só resta torcer que não demore a sair.

 

brincando de deus (2000)

 

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Pelvs, Wry e Astromato
Ouça: Clap Your Hands

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/11153212″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.