Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 08/03/2011

Junio Barreto
Brazilian/Samba/Alternative
http://www.myspace.com/juniobarreto123

 

Por: Cleber Facchi

Junio Barreto é um destes casos raros dentro da música brasileira. Teve seu primeiro disco de estúdio gravado em 1987, quando fazia parte da banda de post-punk/rock gótico Uzzo. Seu segundo trabalho só viria anos mais tarde, 17 para ser mais exato, e explorando um tipo de som completamente diferenciado de sua pouco conhecida estreia. Produzindo um som que transborda elementos da cultura nordestina além de interferências experimentais e eletrônicas, o músico fez não apenas a crítica voltar seus olhares para ele, mas também um batalhão de vozes da MPB.

Nascido na cidade pernambucana de Caruaru, Barreto seria figura ativa na explosão do Manguebeat, quando este se mudou para Recife e viu grupos como Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A criarem o que seria de mais fértil na música brasileira dos anos 90. Anos mais tarde incentivado pelo amigo Otto, o compositor mudou-se para São Paulo, onde passou a sobreviver trabalhando com publicidade, até que finalmente pudesse dar suporte a seu primeiro álbum em carreira solo.

Com produção de Alfredo Bello, mais conhecido como DJ Tudo, o autoentitulado disco de Barreto saiu sob o auxilio da lei de incentivo à cultura do governo de Pernambuco. Na época do lançamento o compositor já contava com 40 anos de idade e toda a experiência e maturidade de anos transitando pelos diversos campos da música se refletem em cada uma das dez faixas desse álbum. Na dezena de sambas que compõem o trabalho, referências que vão do candomblé ao maracatu, sempre de maneira suave e talhada de maneira precisa.

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Embora seja desenvolvido em cima de uma sonoridade puramente orgânica, repleta de instrumentos e ares nada sintéticos, o disco vem recheado por toques e agregados eletrônicos de Qualé Mago, na abertura do trabalho, até A Mesma Rosa Amarela, no fechamento do trabalho. As pequenas reverberações sintéticas passeiam de maneira discreta, como se não quisessem de forma alguma atrapalhar o fluxo de elementos da cultura nordestina.

Em sua poesia, Barreto vem acompanhado de elementos do sertanejo e do agreste, que tanto inspira a sonoridade. A perfeição com que ilustra cenários, conta histórias e revela sentimentos impressiona. Tal cuidado pode ser visto em faixas como Se Vê Que Vai Cair Deita de Vez (Se vê que vai cair deita de vez, oh nego/ Clareia, clareia/ Amansa calundu, junta, sacode, sai, é/ Cai logo, nego/ Sossega teu coração) ou ainda a delicada Santana (Despego meu/ Quem girou a moenda partiu/ Na pressa o rosário quebrou/ Chorou, ah, chorou).

O conjunto de instrumentação sofisticada e letras bem amarradas às melodias fizeram com que grandes nomes da música brasileira como Gal Costa, Maria Bethânia, Lenine, Vanessa da Matta, entre outros, não apenas elogiassem o trabalho de Junio, mas também carregassem para dentro de seus discos criações do compositor. A homônima estreia de Barreto é uma boa forma de quem nunca pisou no terreno da música pernambucana possa se iniciar.

 

Junio Barreto (2004)

 

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Otto, Fino Coletivo e Wado
Ouça: Amigos Bons

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.