Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2011

Lulina
Brazilian/Indie/Lo-Fi
http://www.myspace.com/lulina

Por: Cleber Facchi

Mais conhecida por suas várias gravações caseiras, tendo como base apenas um microfone acoplado a um computador, um violão e seu quarto como estúdio, a pernambucana Lulina é responsável por uma série de lançamentos estranhos, belos e delicados que convergem todos dentro desse Cristalina (2009). Funcionando como uma espécie de grande coletânea desses anos de gravações lo-fi em ambientes caseiros, o disco é um registro de inúmeros cenários reais ou imaginários, porém todos convidativos.

Do seu primeiro registro, Acoustique de France em 2001 até sua “estreia” com esse álbum oficial em 2009, a pernambucana nos presentearia com aproximadamente dez discos independentes, todos facilmente encontrados na página da artista no Trama Virtual. A qualidade diminuta da sonorização das faixas, em nenhum momento impede que as 18 composições encontradas dentro desse disco sejam prejudicadas. A aura artesanal que se instala nos versos e nos acordes adocicados da garota funcionam perfeitamente dentro do mundinho próprio exaltado pela musicista.

Instrumentalmente Lulina vai completando os espaços dentro do disco através do uso de um violão detalhado, uma bateria momentânea e pequenos enxertos de teclados, trompetes e demais inclusões que apenas engrandecem o trabalho. Em Nós, a garota brinca com efeitos e programações, ecos e pequenos agregados instrumentais. Uma bateria eletrônica e guitarras mais abertas constroem a cuidadosa 13 de Junho, faixa que cresce com o uso de teclados em seus pouco mais de dois minutos. Outras que contam com uma instrumentação mais variada são Balada do Paulista (com a letra mais engraçada do disco) e Bosta Nova, com suas explosões quase apoteóticas.

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Quando desenvolve um som mais condensado e menos exaltado, Lulina remete claramente a seus registros artesanais, como na faixa de abertura Criar Minhocas É Um Negócio Lucrativo ou quando brinca com experimentações em Biebs (a das “bolhas na pleura”), que pouco divergiria de sua versão original se não fosse o maior uso de programações e ruídos eletrônicos.

Lulina é antes de tudo uma grande contadora de casos e histórias. Na declarada Meu Príncipe a jovem exalta sua paixão por um “nobre” do mundo real (ou seria imaginário?) que lhe dá “múltiplos orgasmos”, “limpa o banheiro”, “lava a roupa suja” e que “quer discutir a relação”. Conta fatos sobre Jerry Lewis, como quando “foi declarado clinicamente morto” ou quando “quase morreu de meningite em 99”. De ETs a Bruce Lee, o que na faltam são histórias fantásticas que se expressam logo na capa catálogo do álbum.

Mesmo que a formatação das faixas apresente um som mais límpido, os pequenos ruídos que vão adornando as composições ao longo do álbum remetem o tempo todo à estética caseira de seus primeiros trabalhos. Cristalina é ao mesmo tempo um trabalho cru e bem elaborado, mas que independente de todas as suas questões técnicas e instrumentais deve ser apreciado pelas letras despretensiosas de Lulina, que sabe muito bem como nos desligar da vida real e nos arrastar para dentro do seu mundo.

Cristalina (2009)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Tiê, Homiepie e Bruno Morais
Ouça: Bosta Nova

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.