Disco: “Baile X”, João Brasil

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2011

João Brasil
Brazilian/Mashup/Funk
http://www.myspace.com/joaobrasil

Por: Cleber Facchi

A ideia de João Brasil no começo de 2010 era ousada: lançar um mashup novo a cada dia, tudo disponibilizado de maneira gratuita através do seu blog o 365 Mashup. No desenrolar daquele aquele ano o produtor carioca cumpriria com vigor sua promessa, gerando trezentas e sessenta e cinco canções, mesclando o som de duas ou mais faixas em uma mesma composição. Ao término, o agrupamento de algumas faixas dava origem a discos inteiros, porém nenhum teve a mesma simbiose entre as canções quanto o ótimo Baile X (2010).

Brasil já havia misturado Los Hermanos com De Leve, unido LCD Soundsystem com um número grandioso de personalidades e até Steve Jobs com Lady Gaga (!), contudo a mescla de sacanagem do funk carioca com o álbum de estreia dos britânicos do The XX consegue não apenas romper os limites do bizarro, como se transforma em um trabalho realmente bom. De um lado todo o sossego e a melancolia compenetrada de XX (2009), do outro todo o vocabulário das periferias cariocas, sem a mínima importância em soar de maneira culta ou ponderada.

Para dar consistência à massa que liga os dois sons, que até então pareciam tão distintos, o produtor foi atrás da “nata” do ritmo carioca. Explorando desde artistas que contribuíram para a explosão do estilo no inicio dos anos 2000, como Bonde do Tigrão e Vanessinha Pikachu, além do fazedor de hits Latino, Brasil incorpora toda uma gama de artistas mais recentes, que vão desde Gaiola das Popozudas, passando por Dinho da VP até nomes menores como MC Orelha, MC Maiquinho e MC FL.

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Seguindo a mesma ordem do álbum dos britânicos, Baile X começa com um aviso entoado por MC Careca enquanto trechos de Intro (que originalmente abre o trabalho do grupo londrino) vão dando as bases ao fundo da canção. Em versão mais acelerada, VCR ganha os versos de Cerol na Mão do grupo Bonde do Tigrão, em um dos momentos mais hilários, mas ainda assim coerente dentro do disco. Se Dança da Motinha foi a coqueluche radiofônica do inicio do novo século, com esse álbum a faixa ganha acabamentos soturnos, sem nunca abandonar suas batidas.

Entre todas as faixas, talvez seja o encontro entre The XX e Gaiola das Popozudas seja o melhor momento do álbum. O ritmo levemente enérgico de Night Time se encontra com os vocais da diva do funk Valesca Popozuda, focando em uma sonoridade mais voltada para o minimalismo da banda do que a energia da cantora. Não estranhe se logo após uma primeira audição você já se pegue cantando os versos nada límpidos da faixa.

A brincadeira que João Brasil faz com o nome das faixas, como Cerol no VCR, Treme as Island e Vacilão Star é outro ponto de destaque dentro do trabalho. O mais interessante dentro de Baile X talvez seja o formato alcançado pelo produtor, fazendo com que um som que pudesse ser hostilizados tanto pelos “intelectualizados” como pelo público aberto ao funk flua de maneira no mínimo mais acessível aos dois lados.

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Bonde do Rolê, Gaiola das Popozudas e The XX
Ouça: Night time with piru mole

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.