Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 23/01/2011

Moreno +2
Brazilian/Experimental/Indie
http://www.myspace.com/morenodomenicokassin2

Lançado pelos selos Rockit! (de Dado Villa-Lobos, ex-Legião Urbana) e Luaka Bop (David Byrne, ex-Talking Heads) esse é o primeiro trabalho desenvolvido pela tríade Domenico Lancelotti, Alexandre Kassin e Moreno Veloso para o projeto +2, este último responsável pelo comando de Máquina de Escrever Música (2000), a primeira parte de três discos que seriam lançados pelo grupo nos anos seguintes.

A ideia do projeto era de que em cada novo álbum um dos integrantes assumiriam a liderança do trabalho, ditando o rumo que ele deveria tomar, assumindo os vocais e composições, enquanto todos os integrantes se revezavam na produção e instrumentação do álbum, assim como nas apresentações ao vivo. O que se vê nessa primeira amostra do grupo é um trabalho que embora pareça voltado para uma instrumentação e composições típicas da Bossa Nova (por conta principalmente de sua ambientação econômica) acaba aos poucos se revelando um projeto profundamente inovador, muito por conta dos inúmeros acréscimos e referências que vão construindo as faixas, mas que podem passar desatentos por ouvidos descuidados.

Boa parte das composições são do próprio Veloso, contudo há espaço para faixas vindas de Maurício Pacheco (Eu Sou Melhor Que Você), Djavan (Esfinge), Rubens Campos (Só vendo que beleza), Valter Farias (Deusa do Amor) além de uma regravação de I’m Wishing, vinda diretamente da trilha sonora do filme A Branca de Neve e os Sete Anões. Mesmo nas faixas de sua autoria Moreno vem sempre acompanhado por algum outro letrista, seja o pai Caetano Veloso na faixa Sertão ou Quito Ribeiro em Enquanto Isso. Até o parceiro Domenico junto de Pedro Sá assume a composição da ótima Das Partes.

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Essa mesma pluralidade na construção das letras também se mostra visível dentro da sonoridade do grupo. Apesar de soar comportado o álbum vai aos poucos apresentando um sem número de texturas e experimentações que gradativamente vão dando vida ao projeto. Sobra espaço para os músicos provarem da Funk Music em Arriverderci e Rio Longe, afoxé em Deusa do Amor, experimentalismos eletrônicos em Enquanto Isso (algo que seria maior utilizado no trabalho seguinte do trio, lançado em 2003), além da Bossa Nova em Eu Sou Melhor Que Você e demais composições dentro do álbum.

A inserção de pequenas delicadezas e ruídos ao fundo de cada faixa faz com que o disco de estreia do +2 deva ser apreciado com cuidado, afim de que todas suas nuances possam ser captadas pelo ouvinte. A forma discreta dada às composições faz com que esses detalhados acréscimos sejam partes fundamentais nas composições, assim como os vocais e a base sonora das músicas.

Embora Máquina de Fazer Música não tenha chamado tanta atenção quanto os lançamentos seguintes do grupo (é inegável a participação que a internet teve para a circulação dos álbuns de Domenico e Kassin), o álbum demonstra a mesma consistência nas composições e a unidade de seus integrantes, quanto o que seria visto nos futuros lançamentos. A estreia do +2 acaba soando como um exercício para o trio, que percebeu não haver limites para suas experimentações.

Máquina de Escrever Música (2000)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Los Hermanos, Domenico +2 e Kassin +2
Ouça: Arriverderci

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.