Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 24/01/2011

Fabio Góes
Brazilian/Alternative/Experimental
http://www.myspace.com/fabiogoes

Você pode não ter nenhum disco de Fábio Góes, pode nem saber quem ele é, mas certamente já ouviu alguma de suas melodias. Compositor, cantor e multi-instrumentista, Góes já percorreu os caminhos da música em suas múltiplas formas. Participou da trilha sonora dos filmes Abril Despedaçado (2001, Walter Salles) e Cidade de Deus (2002, Fernando Meirelles e Kátia Lund), além de filmes publicitários e atuou como produtor musical. Contudo é através do álbum Sol no Escuro (2007) que o músico deixa de fato sua marca no meio musical.

Imerso em composições melancólicas o álbum surge como uma quase trilha para a vida urbana, ou para a vida em São Paulo mais especificamente. Os personagens das canções misturam seus dramas pessoais, crises e existencialismos enquanto seguem atravessando a cidade, se misturando em meio aos prédios e pequenos cenários urbanos. A sonoridade das faixas não se prende a um único estilo, apontando um universo de ritmos, tons, texturas e experimentações, tudo amarrado de maneira séria, quase fria dentro das composições. Nas onze faixas que dão vida ao álbum, Góes se desprende de um padrão ou forma específica dando vazão ao rap, indie, jazz, experimentalismo e o que mais puder inserir dentro das faixas.

Embora seja repleto de pluralismos há uma perfeita coesão dentro do álbum. O músico consegue ir do rap enérgico em Estatística para o minimalismo em Serena sem que a distinção entre as duas acabe causando estranheza ao ouvinte. Sempre que há uma profunda elevação no ritmo das faixas, Góes entra quase que imediatamente com alguma canção que dê uma quebre a isso. A canção suingada de inicio dá lugar a algo compacto, desmaterializado de excessos na sequência. E é dentro dessa quebra de ritmos e de padrões que vai se desenvolvendo Sol no Escuro.

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A forma como o músico se vale da estrutura sonora dentro do álbum fica claramente próxima do que é experimentado no som dos anos 90, através de bandas do rock alternativo e do post-rock. As bases da faixa Lembrança, por exemplo, carregam forte aproximação com o som de bandas como Mogwai e Explosions In The Sky, enquanto em Mel não há como evitar as comparações com o Radiohead do álbum The Bends (1995). O produtor ainda chama a cantora Céu para explorar seu lado mais “jazzístico” em Sun of Your Eyes.

Embora venham repletas de influências externas, as composições de Góes também dão vazão aos sons nacionais. A linguagem utilizada transita (através do lado mais acústico do disco) pelos álbuns do Clube de Esquina, enquanto as demais composições se aproximam da MPB do final dos anos 70 e início da década de 80. Contudo, o músico consegue evitar todos os clichês e excessos que fizeram parte desse período, assim o som flui de maneira menos intelectualizada e de forma mais aberta ao público.

As faixas iniciais (principalmente) mostram que Fabio Góes consegue se voltar a um som profundamente lírico e ainda assim fácil. Parte disso vem pelo tom confessional dado às composições e também pela maneira como o ritmo é conduzido, criando uma relação de quase intimidade com o ouvinte. Sol no Escuro é parte essencial para explicar a forma como os novos nomes da música brasileira contemporânea fazem fluir seu som, unindo de maneira experimental os gêneros do passado com o que há de contemporâneo.

Sol no Escuro (2007)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Céu, Lucas Santtana e Marcelo Jeneci
Ouça: Sem Mentira

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.