Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2011

Wado
Brazilian/Alternative/Experimental
http://www.myspace.com/wwwado

Por: Cleber Facchi

Após uma sequência de três discos fundamentais para a “música alternativa brasileira”, o catarinense naturalizado alagoano Wado marca sua volta com o belo Terceiro Mundo Festivo (2008). Um registro que faz com que várias corredeiras distintas se encontrem em um único ponto, delimitando assim toda a abrangência de referências dentro de um som que pode ser chamado unicamente de seu. Circundando um universo de tonalidades diferenciadas o musico chega com um dos melhores trabalhos de sua carreira e um dos discos mais conceituais da música brasileira dos anos 2000.

Livre de uma desajustada mistureba instrumental, o músico destila tudo dentro de uma sonoridade que reverbera afoxé baiano, funk carioca, electro, samba e reggaeton, tudo dentro de uma temática puramente brasileira e repleta de suingue. Seriam necessários quatro anos entre este e o último disco do músico – A Farsa do Samba Nublado (2004) – uma espera que ficou parcialmente esquecida quando em mãos (ou ouvidos) somos presenteados com esse distinto registro.

Um ano antes de brilhar com essa bolacha, Wado se uniria a uma série de outros músicos, dando origem ao Fino Coletivo. O resultado dessa união refletiria no lançamento de um disco autointitulado em 2007, além de trazer todas essas referências com foco no samba para dentro desse quarto disco do “alagoano”. Se antes o músico envergava para dentro de um caminho que seguia até algumas trilhas do rock alternativo, agora tudo esbanja certa brasilidade.

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Tudo funciona de maneira muito natural e ausente de compromissos dentro do disco. A substituição de um ritmo por outro a cada nova faixa ocorre de maneira adequada. O músico tem também o cuidado em evitar que a faixa sequente nunca exagere instrumentalmente em relação a que a precede. Dessa forma é possível absorver cada canção de forma tranquila, sentindo cada mínimo acorde ou som.

Assim como há um número bem relevante de sons e ritmos distintos dentro de Terceiro Mundo Festivo, a poesia das canções não poderia ser diferente. Wado explora desde faixas com um fundo mais emocional, como em Fortalece Aí, Lucrécia e Melhor (uma das melhores do trabalho), passando também por faixas de “cunho social”, como em Reforma Agrária do Ar. Sobra até espaço para um pouco de malandragem na divertida Teta (Eu era neném mamador de teta/ Os meninos saem dela/ E depois voltam pra…).

É visível como a partir deste registro Wado conseguiu encontrar de fato um caminho dentro de sua vasta experimentação sonora. O álbum funciona como uma grande síntese de sua discografia, além de abrir caminho para mais uma série de explorações instrumentais que viriam em seus trabalhos seguintes. Um disco repleto de temperos puramente nacionais e um belo exemplar do que é a música brasileira do novo milênio.

Terceiro Mundo Festivo (2008)

Nota: 9.3
Para quem gosta de: Fino Coletivo, Momo e Bruno Morais
Ouça: Fortalece Aí, Melhor e Fita Bruta

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.