Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2011

Terminal Guadalupe
Brazilian/Indie Rock/Power Pop
2003 – 2011

 

Por: Cleber Facchi

Se boa parte das bandas dos anos 2000 preferiam falar sobre amor, as dores do coração e suas conquistas sentimentais o Terminal Guadalupe parecia seguir por uma via quase oposta, muito mais política e bem mais madura. Depois de algumas demos e o ótimo Burocracia Romântica (2003, trabalho que funcionava como trilha sonora de um curta metragem homônimo) o quinteto curitibano chegava com o belo A Marcha dos Invisíveis (2007), o trabalho mais adulto da banda e um dos discos mais maduros do rock nacional naquele período.

Sai de cena o mocinho sofrido, a musa inspiradora, as declarações de amor simplistas ou elaboradas, para dar lugar a poesia peculiar de Dary Jr, fazendo uma descrição concisa de pessoas, situações e acontecimentos que perpassavam o país na época de seu lançamento. Embora sérios e cinzentos, os versos das dez faixas que compõem o registro se mostram a todo momento esperançosos, embora a melancolia (e em alguns momentos até a revolta) que se abate sobre as canções por vezes oculte isso.

Os curitibanos conseguiram de forma hábil falar de temas sérios sem soarem pretensiosos, exagerados ou donos de um discurso vago. Talvez o grande fator que tenha catapultado o disco para dentro dos maiores lançamentos daquele ano seja a sonoridade pop e pegajosa proporcionada em grande parte pelas guitarras grudentas de Allan Yokohama. Bebendo do Power pop de bandas como Weezer, além de sons que fluem da discografia do Muse, sem dúvidas tais acordes são o combustível do disco.

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Impossível não se sentir atingido pela sonoridade explosiva de faixas como El Pueblo No Se Va (com um dos solos mais poderosos do rock contemporâneo) citando inclusive Belchior, ou ainda a ágil Pernambuco Chorou, em que bateria e guitarra se confrontam a todo o momento. Mesmo em instantes mais compactados como em Cachorro Magro, faixa dotada de um adornamento acústico e delicado, o grupo proporciona uma sonoridade cuidadosa que apenas engrandecem os versos límpidos do vocalista.

Mesmo que o disco faça um retrato politizado sobre questões diversas – falando inclusive do cenário árabe (Recorte Médio-Oriental) ou da situação política nacional (Praça de Alimentação) – há também espaço para se falar de amor. Prova disso é a sofrida De Turim à Acapulco uma das mais belas, emocionais e sérias composições sobre o tema.

Lançado em CD, MP3 e (o até então inovador) Pen-Drive, o que não faltou ao grupo foram possibilidades de propagar seu som. Passado alguns EPs, shows esporádicos, singles e longos hiatos a banda chegou ao fim no começo de 2011. Como presente aos fãs, o grupo deixou uma vasta discografia, contando inclusive com uma série de registros ao vivo ou em estúdio, mas acima de tudo fundamentais para a música contemporânea.

 

A Marcha dos Invisíveis (2007)

 

Nota: 8.7
Para quem gosta de: Poléxia, Violins e Pullovers
Ouça: Atalho Clichê

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.