Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 03/04/2011

Tom Zé
Brazilian/Samba/Experimental
http://www.tomze.com.br/

Por: Cleber Facchi

Embora todos os louros dados à Tropicália pairem (principalmente) sobre a cabeça de Gilberto Gil e Caetano Veloso, nenhum artista da música brasileira conseguiu retratar de forma tão categorica toda essa revolução de sons e experimentalismos quanto Tom Zé. De clássicos absolutos como Todos os Olhos (1973) e Estudando o Samba (1976), passando por ótimos registros com Jogos de Armar (2000), o músico baiano alcançaria seu ápice em 2005 com o inteligentíssimo Estudando o Pagode – Na Opereta do SEGREGAMULHER e Amor.

Ave-Marias remixadas, gemidos sampleados e múltiplos tipos de sons sincopados e excêntricos servem de base para que as letras politizadas do músico – dessa vez retratando todas as mazelas a que são submetidas as mulheres – possam ao longo do registro construir todo um universo esquizofrênico e realista de sonoridades, histórias e experimentações fugazes.

Estudando o Pagode teve início ainda em 1976, quando o músico dava ao samba seu próprio tipo de interpretação, mesclando esquisitices e melancolias que dariam como resultado Estudando o Samba. Para o registro dos anos 2000, Tom Zé cerca-se não apenas de uma parafernália instrumental grandiosa, que vai de arranjos de cordas, passando por violões e teclados, mas também de distintos elementos eletrônicos que vão ao longo do álbum costurar uma espécie de pagode futurístico, quase raivoso e que deixam o músico solto, como uma criança brincando com os sons e as palavras.

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Por falar nas palavras são elas as grandes responsáveis por dar ao disco todo o caráter de crítica e honestidade alcançado em seu desenvolvimento. O baiano casa a ironia com trocadilhos poderosos para dar formação a pérolas como Mulher Navio Negreiro (Mulher – Divino Luxo – Navio Negreiro/ Graal – Puro Cristal – Desespero/ Rosa-robô – Cachorrinho – Tesouro/ Ninguém suspeita dor neste ideal/ A dor ninguém suspeita imperial), sem contar no uso de palavras como “clitorectomia”, que acabam pipocando no decorrer do álbum.

Embora o foco do disco seja o explorar de sons que resultem no que seria um “pagode”, o uso de distintos tipos de som acabam por vezes levando o músico a pisar em outros territórios. Pode ser em O Amor é um Rock, com o encontro de guitarras com uma percussão pagodeira ou no samba eletrônico Teatro (Dom Quixote), sobra espaço para que a criatividade de Tom Zé faça morada em cada canto desse disco.

Sucesso de critica e público (tanto no Brasil quanto no exterior) esse décimo oitavo disco de estúdio do músico de Irará não é apenas um estudo sobre gêneros e estilos, mas uma aula sobra a música brasileira em seus diversos âmbitos. O ostracismo nos anos 80 ou mesmo o retorno do músico na década seguinte pareciam deixados para trás, aqui Tom Zé chega novo, brincalhão e tão inspirado (se não mais) quanto fora nos idos da tropicália.

Estudando o Pagode – Na Opereta do SEGREGAMULHER e Amor (2005)

Nota: 9.2
Para quem gosta de: Novos Baianos, Caetano Veloso e Cidadão Instigado
Ouça: Prazer Carnal

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.