Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 09/04/2011

China
Brazilian/Alternative/Indie
http://www.myspace.com/chinaina

 

Por: Cleber Facchi

Quem foi que disse que a Jovem Guarda teve fim? A maior prova da ativa existência de um dos grandes gêneros da música brasileira está no lançamento do disco Simulacro (2007) do pernambucano China. Ex-integrante do Sheik Tosado, o músico brinca com Roberto e Erasmo Carlos em uma série de composições recheadas por boas letras e instrumentação bem ordenada. Produzido por Pupilo (Nação Zumbi) o álbum é uma ode aos sons dos anos 60 e 70, mas sem deixar de lado o uso de uma musicalidade própria e contemporânea.

Quem espera se de deparar com um álbum que reverbere apenas sons arcaicos terá uma enorme surpresa. As letras e a forma como o ritmo é delineado são próprios de décadas passadas, mas os pequenos acréscimos futurísticos dão à China toda a possibilidade de construir um som dinâmico e inovador. Em Um Dia Lindo, o pernambucano dá vazão a um som permeado pelo uso de boas guitarras, mas que se destacam pela inclusão de elementos eletrônicos, além efeitos no vocal do cantor.

Além da constante mescla entre o passado e o futuro, o músico brinca com o presente, dando forma a pequenas referências ligadas a músicos e artistas da região. Mundo Livre S/A acaba se mostrando como elemento de liga às canções, como fica evidente em faixas como Asas Nos Pés e Colocando Sal nas Feridas, em que guitarras levemente suingadas se enchem de pequenas inclusões eletrônicas, porém, tudo de maneira muito mais pop do que na banda de Fred 04.

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Já as andanças com o pessoal do Mombojó através do projeto Del Rey (em que os músicos apresentam canções do Rei Roberto Carlos com uma roupagem moderna) ou mesmo nas apresentações híbridas das duas bandas acabam se refletindo a todo o momento dentro do disco, mais especificamente em sons como Durmo Acordado. O próprio baterista do Mombojó, Vicente Machado acaba aparecendo ao longo do álbum. Quem também dá as caras é o conterrâneo Rafael B. um dos integrantes do Bonsucesso Samba Clube.

A sapiência de China com as palavras gera por fim uma sucessão de hits pegajosos, divertidos e inteligentes, como pode ser visto em Canção que não morre no ar, faixa que se sobressai por seus versos sinceros e apaixonados. Outro claro destaque é Câncer, dona de uma poesia melancólica e que “brinca” com as comparações entre o término de relacionamento e a doença.

Mesmo que Simulacro seja um passeio por várias décadas, estilos e influências, o álbum é inteiramente China. Todas as canções são de sua autoria (mesmo que rolem algumas parcerias) o que dá uma movimentação única ao registro. Aos que ainda achavam que o panorama cultural de Pernambucana estava extinta com a morte de Chico Science, este disco é apenas uma das muitas constatações do quão forte, criativo e funcional ainda é tal cenário.

 

 

Simulacro (2007)

 

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Mombojó, Del Rey e Eddie
Ouça: Um dia lindo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.