Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 10/04/2011

Caetano Veloso
Brazilian/Alternative/Rock
http://www.caetanoveloso.com.br/

Por: Cleber Facchi

Há tempos que Caetano Veloso não passava de uma mera figura representativa de seus tempos áureos nos anos 60 e 70. Do grande agitador cultural de uma geração, o baiano havia se convertido em um compositor enfadonho, lançando esporadicamente trabalhos de certa relevância, mas que em hipótese alguma se comparavam com clássicos como Transa (1972), Araçá Azul (1972) ou Jóia (1975). Veloso carecia de um combustível, de algo que o tirasse do confortável abrigo a que estava acostumado, e isso veio com a separação da mulher Paula Lavigne em 2004, que resultou dois anos mais tarde no lançamento do disco (2006).

O término do relacionamento, que havia durado 19 anos fica visível na maior parte do disco, com Caetano se portando de forma agressiva, áspera e em nenhum momento poupando suas palavras. Saltam aos ouvidos versos como “De cara alegre e cruel/ feliz e mau como um pau duro”, “Você foi concreta/ E simplesmente/ Rata comigo demais” ou “Eu não me arrependo de você/ Cê não me devia maldizer assim”, sempre transitando entre o raivoso e o melancólico, entregando os desnorteados sentimentos do músico.

De Bob Dylan à Kanye West, de Marvin Gaye à Bruce Springsteen, o que não faltam são registros que exaltam a separação, porém este não é o único ponto central nesse álbum. O compositor exalta, por exemplo, suas percepções sobre o envelhecimento de maneira crua e direta em Homem, dando forma a trechos como “só tenho inveja da longevidade e dos orgasmos múltiplos”. Há também uma homenagem ao falecido amigo e poeta Wally Salomão (morto em 2003), além de exaltações amorosas em Musa Híbrida e Deusa Urbana.

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Entretanto, muito mais do que um mero disco de Caetano Veloso, é um álbum que se constrói graças à tríade de músicos que acompanham o cantor ao longo de todo o trabalho. Denominada posteriormente de “Banda Cê” e composta por Pedro Sá (guitarra), Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), a trinca é (ao lado do filho Moreno Veloso, um dos produtores do álbum) a responsável dar vida a sonoridade jovial e suja que acompanha as doze canções do disco.

A efetiva participação dos três músicos é o que faz canções como Rocks tenham de fato toda a raiva e vivacidade, dando uma real sustentação aos versos embrutecidos de Veloso. Mesmo que os sons transitem entre o rock alternativo dos anos 90 e energia do indie rock dos anos 2000 surgem espaços para a criação de canções voltadas aos ritmos de outrora do cantor. Prova disso está expressa Musa Híbrida ou Um Sonho, mesclando a sonoridade opaca proporcionada pelo trio com alguns toques de regionalismo anteriormente já tratados.

O trabalho serviu para aproximar Caetano de toda uma geração de ouvintes, que sequer haviam pensado em um dia se aventurar por suas composições. deu também uma revitalizada à discografia do músico, resgatando toda a temática roqueira de seus primeiros discos. A boa repercussão do álbum rendeu ainda uma versão ao vivo do mesmo, lançada no ano seguinte. Embora exaltasse sua velhice ao longo do disco, Veloso estava tão jovem e ativo, quanto fora há 30 ou 40 anos.

Cê (2006)

Nota: 10.0
Para quem gosta de: Gilberto Gil, Chico Buarque e Los Hermanos
Ouça: Homem

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.