Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 16/04/2011

Mamelo Sound System
Brazilian/Hip-Hop/Alternative
http://www.myspace.com/mamelosoundsystem

 

Por: Cleber Facchi

De um lado a voz suave, porém firme e decidida de Lurdez da Luz, do outro, Rodrigo Brandão, tecendo versos feito um observador crítico da vida urbana. Da soma desses dois elementos, também personagens dos mesmos versos por eles retratados surgiu em meados do ano 2000 o Mamelo Sound System. Como a própria dupla se define “um grupo de hip-hop afro-futurista brasileiro” e que teve com o lançamento de Velha-Guarda 22 em2006 a soma de todos os fatores, histórias e pessoas que se entrelaçaram na expressiva carreira do grupo.

O álbum surgiu de um surto criativo, quando os dois versistas fizeram de suas férias em janeiro de 2006 um “intensivão de versos”, de onde pipocaram boa parte das canções que estariam presentes no disco. Da praia para o estúdio, a dupla contou com a presença mais do que fundamental do produtor canadense Scotty Hard para o gerenciamento e a condução do trabalho. A presença do músico (que já havia trabalhado com De La Soul, Wu-Tang Clan e Hurtmold) veio por intermédio dos amigos da Nação Zumbi, que inclusive marcam presença na faixa Zumbi/Zulu.

Por falar em parcerias, são elas que movem a maior parte do álbum. Há desde as presenças femininas de Céu e Geanine Marques (Stop Play Moon), até o time masculino formado por Espião, DJ Primo, o pessoal do Hurtmold, Rica Amabis, Sebstop e Daniel Bozio. Achou pouco? Então que tal a lenda viva Tonny Allen, músico nigeriano que ao lado de Fela Kuti deram vida ao Afrobeat e toda a expansão de sons africanos surgidos na década de 1970.

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Como quem conta histórias, Luz e Brandão vão costurando desde fatos do cotidiano até criticas sociais, além de homenagens a pessoas e acontecimentos históricos. Se revezando entre o festejo e a batalha, a dupla entrega Festa/Luta, faixa que trata sobre a ditadura militar sem em nenhum momento cair em clichês, fazendo inclusive uma ponta com o presente. Se explorando a “fronteira final”, o duo constrói os versos de Assim Falou Sun-Rá, mantendo os pés no chão surge a nostálgica Minha mãe diz, repleta de memórias dos dois rappers.

Ao contrário de muitos lançamentos do gênero, Velha-Guarda 22 não se limita apenas ao uso de batidas diversificadas e samplers esporádicos, mas conta com uma fina sequência de sons, transitando pelo dub, regionalismos, rock, jazz e afrobeat. Já no inicio do álbum, com a faixa Para abrir nossos caminhos, a gravação do que seria um ritual indígena exprime a diversidade de elementos que compõem a sonoridade do álbum.

Quarto disco de estúdio do Mamelo Sound System, Velha-Guarda 22 é visivelmente o álbum mais coeso e dinâmico da carreira da dupla. Mais do que um simples retrato dos versos multidirecionados de Lurdez da Luz e Rodrigo Brandão, o álbum é um registro de diversas vozes e ritmos que fazem parte do da música brasileira dos anos 2000.

Velha-Guarda 22 (2011)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Instituto, Maquinado e Curumin
Ouça: Zulu/Zumbi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.