Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 20/04/2011

Vitor Ramil & Marcos Suzano
Brazilian/Alternative/Folk
http://www.vitorramil.com.br/
http://www.myspace.com/marcossuzano

Por: Cleber Facchi

 

Satolep Sambatwon (2007) é um disco de dualidades. De um lado está Vitor Ramil, criador da chamada “Estética do Frio”, que visa defender as características da sonoridade sulista em suas obras. Do outro está o carioca Marcos Suzano, praticamente um oposto do músico gaúcho, já que desde os anos 90 vem se aprofundando na criação de um som caloroso por meio de sua percussão quente. Da união desses dois elementos tão distintos vem esse minucioso registro, em que as suaves inserções eletrônicas através de samplers e delicados sintetizadores servem de cola para essa mistura.

Tudo se caracteriza pela constante participação dos dois músicos. Enquanto Ramil (que é o irmão mais novo da dupla Kleiton e Kledir, grupo famoso no rock gaúcho dos anos 80) abre sempre as canções entregando suas milongas (um dos ritmos mais famosos do Rio Grande do Sul), Suzano chega em seguida (ou um pouco antes) despejando uma sequência de pandeiros e batidas percussivas em um looping contraditório ao proposto pelo parceiro. A estranha mescla, porém, orna com perfeição.

A todo o momento a dupla parte em busca de um equilíbrio entre seus distintos elementos e influências. Sempre que Ramil entra solitário, como ocorre em Invento, acompanhado apenas de sua voz e um violão (além de alguns apetrechos eletrônicos ao fundo), o percussionista se vira sozinho como em O Copo e a Tempestade, fazendo com que seu singelo pandeiro se desdobre em uma orquestra percussiva. Porém é quando os dois opostos se encontram dentro de uma mesma faixa que o projeto de fato cumpre suas funções.

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Não só a faixa de abertura, Livro Aberto, consegue despontar isso com propriedade, cruzando os sons com maestria, mas outros pequenos petardos ao longo do trabalho assumem essa responsabilidade. A angustiante Café da Manhã, por exemplo, utiliza da melancolia da milonga e o ritmo preciso da percussão para dar vida a um dos momentos mais enaltecedores do álbum, em que o jogo de palavras trabalhados por Vitor servem de sustentação às batidas certeiras de Marcos.

Ainda na busca pelo equilíbrio, cada um dos músicos traz a ilustre presença de representantes de suas terras. Suzano traz a cantora Kátia B. que entrelaça seus vocais calorosos com os murmúrios frios de Ramil. Já o gaúcho convida o uruguaio e amigo Jorge Drexler, para que este empreste seus vocais à sentimental A Zero por Hora, além de dividir a autoria em 12 segundos de obscuridad, um dos poucos fraquejos de todo o trabalho.

Antes do fechamento do disco com Astronauta Lírico, a dupla entrega o poema de Emily Dickinson, The World Is Dead, musicado em um sambinha rápido, porém agradável. Embora a proposta de colar tudo com música eletrônica acabe ao longo do disco sendo deixada de lado, dando maior espaço para que as influências e sonoridades dos dois músicos Satolep Sambatwon (“Satolep” é Pelotas escrito ao contrário, cidade natal de Ramil, e “Sambatown” é o nome do primeiro disco de Suzano) cumpre obviamente com suas funções, deixando mais do que clara que a distância entre os dois Rios já não existe mais.

Satolep Sambatwon (2007)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Vitor Ramil, Marcos Suzano e Nei Lisboa
Ouça: A zero por Hora

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.