Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 21/04/2011

Os Mutantes
Brazilian/Psychedelic/Experimental
http://mutantes.com/

Por: Cleber Facchi

Talvez a maior prova da inventividade da banda Os Mutantes tenha vindo não com o famigerado retorno do grupo em 2006, através do projeto Tropicália – A Rrevolution in Brazilian Culture em Londres e posteriormente com uma série de shows, mas sim através do disco Technicolor. O trabalho foi gravado em novembro de 1970, quando a banda estava no auge de sua criatividade, porém só foi lançado em meados dos anos 2000, passados mais de vinte anos desde que a banda tivera seu fim, em junho de 1978.

Assim como a colorida capa que o ilustra – tanto a pintura quanto a caligrafia são de autoria de Sean Lennon, filho de John Lennon – o álbum agrega uma infinidade de histórias policromáticas desde sua concepção até seu lançamento. O álbum foi todo gravado durante uma visita do grupo – na época composto por Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias – à França, atendendo pedidos da gravadora PolyGran, para que o trio lançasse um trabalho exclusivo para o público inglês. A gravadora, entretanto, não gostou do resultado, por conta da mistura excessiva de idiomas e engavetou o projeto.

Porém, em 1995 durante a produção de uma biografia do grupo, o escritor Carlos Calado descobriu o histórico registro e buscou por seu lançamento. Entretanto foi só em 1999, através do jornalista e pesquisador musical Marcelo Fróes, que o álbum pode finalmente ser lançado. As faixas foram todas remasterizadas e o resultado pode ser apreciado através das treze canções do disco, um conjunto de versões cantadas em inglês, francês e espanhol para canções já conhecidas do grupo.

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Muito mais do que meras versões para clássicos da banda, Technicolor abre as possibilidades para que o grupo possa reinventar sua mutável sonoridade. A declarada Baby, por exemplo, composta por Caetano Veloso e originalmente inserida no álbum de estreia do trio chega através de contornos muito mais límpidos, soando como uma bossa nova às avessas. Outra que chega renovada é Bat Macumba, cruzando o rock com as diversas influências regionalistas típicas do período tropicalista.

Cinco faixas deste álbum – Virgínia, El Justiciero, Sarava, Baby (cantada em inglês) e a canção título – acabaram posteriormente inseridas no disco Jardim Elétrico (1971), embora fossem encontradas em formatações mais simplórias. Na versão original de Virginia percebe-se nitidamente uma participação maior de teclados e sintetizadores viajados, enquanto na canção gravada posteriormente há um uso menor de tais instrumentos, dando à faixa uma sonoridade menos psicodélica e mais concisa.

Technicolor não foi o primeiro disco do grupo a ser lançado tardiamente, em 1992 uma suposta reunião da formação clássica dos Mutantes faria com que o disco O A e o Z, gravado originalmente em 1973 fosse finalmente lançado. Entretanto foi com o álbum lançado em 2000 que o grupo mais uma vez firmava seu nome dentro do rock e da música brasileira. Se houve um retorno do grupo posteriormente, tal volta só se deu por conta deste trabalho.

Technicolor (2000)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Secos e Molhados, Novos Baianos e Tom Zé
Ouça: Virginia

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.