Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 27/04/2011

Wry
Brazilian/Shoegaze/Alternative Rock
1994 – 2010

Por: Cleber Facchi

O que acontece quando um quarteto de adolescentes fissuardos em My Bloody Valentine, Legião Urbana, Sonic Youth, The Jesus and Mary Chains e U2 se encontram? Em 1994 esse foi o estopim para que surgisse na cidade paulista de Sorocaba a banda Wry. Mas e com todos esses elementos, mais a presença de Tim Wheeler, vocalista do grupo irlandesa Ash e o produtor Gordon Raphael, que entre tantos trabalhos destaca-se pelos dois primeiros álbuns do Strokes, o que poderia surgir? A resposta é uma só: Flames In The Head.

Em 2002, quando o quarteto formada por Chokito (baixo), Mário Bross (vocal e guitarra), Lu Marcelo (guitarra) e Renato Bizar (bateria) havia liberado seu mais recente disco, Heart-Experience, estava mais do que claro que a banda de adolescentes criada em meados dos anos 90 já não existia mais. Ali estavam quatro jovens adultos, que munidos de suas distorcidas guitarras falavam sobre o amor e todas as coisas que perpassam a vida de qualquer um na casa dos 20 anos. Entretanto, o álbum seria apenas um aquecimento para a enxurrada de sons que ainda estavam por vir.

Quando o grupo começou a produzir aquele que seria seu terceiro disco de estúdio, todos os integrantes já viviam há um bom tempo em Londres, cidade que escolheram em busca de uma maior visibilidade ao som da banda. Dessa forma, todas as dez composições que definem o álbum chegam carregadas visivelmente por muito da sonoridade que se desenvolvia no panorama da época, tanto por uma crueza quanto por um tom melódico muito maior do que era encontrado nos anteriores registros do quarteto. Mesmo diferente, o LP de forma alguma se separa hermeticamente dos demais trabalhos dos paulistas, soando de fato como um ponto de maturidade do grupo.

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Toda a rebeldia ou mesmo os excessos encontrados em discos passados parecem não abandonados, mas sob controle. É como se toda a saraivada de guitarras despejadas pelo grupo anteriormente, agora fossem encontradas de maneira melhor conduzida e tão eficientes quanto outrora. Há tanto a presença de Gordon Raphael, os encaminhando para uma via mais pop (Softly Slow), como Wheeler conduzindo o grupo na criação de gigantescos paredões de guitarra (Airport Girl), além é claro, do próprio direcionamento da banda (Come On Fall).

Tanto a produção, quanto a sonoridade fazem de Flames In The Head um disco “redondo”, como se cada uma de suas composições fossem coerentemente amarradas em um conjunto inflamado de canções irretocáveis. O disco abre com a direta In The Hell Of My Head (fazendo a banda soar como uma espécie de U2 raivoso), passa pela obscura Cancer, até o findar do álbum com a com a melancólica e rápida Sabrina, tudo dentro de um resultado impossível de ser visto de outra forma.

Lançado em dezembro de 2005, o disco deu ao Wry a possibilidade de se lançar em uma turnê que percorreu tanto o Reino Unido quanto boa parte do Brasil. O álbum, lançado através da Monstro Discos, além de contar com boa uma repercussão tanto da critica gringa, quanto da nacional possibilitou que o quarteto tivesse acesso a um número relevante de canais, como radio, revistas e TV, além de dar ao grupo a possibilidade de montar um show durante um desfile de uma conceituada grife de roupas. Porém, em 2010 a banda anunciou seu fim, após uma cuidadosa carreira que durou exatos 16 anos. O grupo se extinguiu, mas sua discografia continua fazendo com que a cabeça e os ouvidos de muita gente continue a queimar.

Flames In The Head (2005)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Astromato, Pin Ups e Pelvs
Ouça: Cancer

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.