Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 28/04/2011

Autoramas
Brazilian/Rock/Surf Music
http://www.myspace.com/autoramas

Por: Cleber Facchi

Certas bandas levam uma vida inteira de trabalhos elaborados e aprendizados constantes até finalmente alcançarem aquilo que posteriormente será chamado pela imprensa como o “disco mais maduro do grupo”. Diferente dos artistas tradicionais, o Autoramas teve desde seu primeiro disco um tipo de trabalho maduro, fruto obvio do aprendizado de Gabriel Thomaz, líder do grupo, com sua antiga banda, a Little Quaid and The Mad Birds. Entretanto, mesmo a sempre adulta banda carioca conseguiu crescer ainda mais com um eficaz disco em 2007.

A obra em questão é Teletransporte, quarto disco de estúdio da banda – naquela altura composta por Bacalhau (bateria) e Selma Vieira (baixo), além de Thomaz (vocais e guitarra) – e que fazia do disco um denso agregado de todas as referências e experimentações construídas ao longo de toda a carreira do grupo. Todos os elementos convergem de forma concisa e renovada dentro do disco, fazendo com que cada faixa surja repleta de frescor e traga um pequeno fruto da grande árvore de influências da banda.

Entre as principais referências do grupo está a surf music, que acaba se concentrando em grande parte do disco, fracionando-se em pequenos exemplares em seu decorrer. O ritmo praieiro encontra-se tanto na primeira faixa, Mundo Moderno, quanto no interior do disco, como em Identificação, assim como pode ser ouvido próximo do termino de Teletransporte na faixa O Inesperado. Assim como na trinca de trabalhos anteriores, as reverberações praieiras chegam carregadas pelo baixo distorcido de Selma Vieira (uma das marcas da banda) e boas doses da guitarra de Thomaz.

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Entre as demais influências da banda que aqui se fazem presentes estão a Jovem Guarda e o rock de garagem. A primeira tem como seu melhor exemplar a romântica A 300 Km/h, faixa que soa como alguma composição de Roberto Carlos em seu auge nos anos 60 e 70, com Gabriel detalhando frases típicas de um apaixonado. Já o segundo elemento se representa através de canções como Marketeiro, Já Cansei de Te Ouvir Falar e principalmente em Muito Mais, música que chega carregada por sequências de acordes sujos, remetendo aos primeiros trabalhos do trio.

Entretanto, o grande destaque do álbum está em suas experimentações. O grupo começa brincando de New Wave com Fazer Acontecer, uma dessas canções típicas do rock oitentista, mas é através da faixa Digoró que os Autoramas alcançam o ápice. A música, que é toda falada, surge como uma espécie de narração jornalística, com Thomaz e Vieira contado a história de Digoró, um garoto que rouba uma nave de um fliperama, enquanto se perde em meio a drogas e “explosões azuis vermelhas”. A instrumentação por sua vez surge como uma pequena trilha sonora para a fantástica aventura contada por seus narradores.

Com 14 faixas e a produção do disco dividida entre Berna Cepas e Kassin, Teletransporte é um disco inteiramente de acertos, com o Autoramas, soando ao mesmo tempo maduro e tão jovial quanto fora nos primeiros álbuns. Fazendo jus ao título, o quarto trabalho dos cariocas consegue, pelo menos no campo da imaginação, transportar o ouvinte para dentro de um universo próprio, onde artistas da jovem guarda, trajando roupas dos anos 80, se divertem na praia ao som de boas guitarras distorcidas.

Teletransporte (2007)

Nota: 8.8
Para quem gosta de: Little Quail and The Mad Birds, Canastra e Ecos Falsos
Ouça: Digoró

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.