Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 30/04/2011

Emicida
Brazilian/Rap/Hip-Hop
http://www.myspace.com/emicida

Por: Cleber Facchi

Enquanto o rap nacional dos anos 90 trazia como grande fonte as mazelas e as adversidades enfrentadas por seus enunciadores, o mesmo gênero nos anos 2000 despontou uma temática muito mais dançante, comercial e em vários momentos até fútil. Com exceção de alguns trabalhos, como o do Racionais MC`s e Sabotage, por exemplo, foram poucos os registros que mantiveram a mesma destreza adquirida em tempos passados. Transitando pelo acessível, sem abandonar suas raízes, Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, trouxe com seu disco de estreia um verdadeiro sopro de inovação ao rap tupiniquim, mostrando que é possível soar fácil, sem soar desnecessário.

Ao mesmo tempo em que relembra com um visível toque de nostalgia todas os empecilhos encontrados em sua juventude na periferia de São Paulo, Emicida faz de sua estreia, Pra quem já mordeu um cachorro por comida até que eu cheguei longe (2009), um trabalho muito mais entregue ao cotidiano do que voltado ao lado político ou social em si. O rapper transita em meio a casos do passado, homenagens a amigos falecidos, de maneira branda alguns conselhos e claro, se permite exaltar o amor.

Surgindo como uma espécie de hino motivacional, revoltado e crítico, a faixa de abertura, Intro (é necessário voltar ao começo), surge como um dos trabalhos mais memoráveis de todo o álbum. A sobriedade e melancolia das bases instrumentais, pontuadas por uma climatização jazzística abrem todas as possibilidades para que o rapper destile seus versos como quem observa não apenas a sua realidade, mas todos os panoramas, sociais, econômicos, religiosos e ambientais, questionando o progresso e dando apontamentos que não agridem, mas conseguem de fato tocar o ouvinte.

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A abertura pesada, entretanto, torna-se parcialmente deixada de lado, como seu para ter acesso aos versos seguintes de Emicida fosse antes necessário adentrar a mente do rapper. Contabilizando um total de 25 faixas, a mixtape se abre em um leque de possibilidades onde o paulista reforça a todo momento sua identidade através do martelar de versos com “a rua é nóis”, ou de outros elementos que trazem de volta a suas origens, como as batalhas de freestyle – elemento que de fato trouxe visibilidade à Emicida – ou mesmo fatos que perpassam sua infância, adolescência e o presente.

Para a construção dos quase oitenta minutos de duração do disco, o rapper levou mais de três anos, dividindo a produção do álbum entre parceiros, ou mesmo assumindo a responsabilidade individualmente. Entre os nomes que figuram na extensa lista de convidados estão Rael da Rima, MC Marechal, Projeto Nave, Mariana Timbó, DJ Nyack, entre outros, que junto do paulista dão vida e versos como os encontrados na poderosa Triunfo, na melancólica Só Isso, em composições apaixonadas como Vô Busca Minha Fulô ou Fica Mais um Pouco Amor, além de Essa é pra vc Primo, feita em homenagem ao DJ Primo, morto em 2008 por conta de uma pneumonia.

Embora contasse com uma abertura tímida nos meios de comunicação que divulgaram o trabalho, Pra quem já mordeu um cachorro por comida… aos poucos foi conquistando espaço tanto na imprensa quanto no público, figurando ao término de 2009 como um dos melhores lançamentos daquele ano. O álbum levaria Emicida a conquistar um posto só seu no hip-hop nacional, além de preparar os ouvintes para seu segundo e também excelente disco, que viria logo no ano seguinte.

Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe (2009)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Rael da Rima, Kamau e Criolo
Ouça: Triunfo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.