Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2011

Violins
Brazilian/Alternative/Rock
http://www.myspace.com/violinsbr
http://www.violins.com.br/

Por: Cleber Facchi

Certos trabalhos só alcançam sua totalidade após anos de construção ou preparação prévia, um bom exemplo disso é Tribunal Surdo (2007), quarto trabalho de estúdio da banda goiana Violins, que traz uma espécie de retrospecto ou acumulo de todas as tonalidades propostas pela banda, desde seus primeiros registros, quando ainda se chama Violins and The Old Books. Cru e marcado pela utilização, tanto de letras quanto nas sonoridade, de melodias repletas de peso, sujeira e agressividade, a banda faz desse trabalho não apenas seu melhor álbum, mas um dos discos mais intensos de toda a história do rock nacional.

Enquanto Wake Up and Dreams (2001) e Aurora Prisma (2003) apresentavam o quarteto formado por Beto Cupertino (voz e guitarra), Thiago Ricco (baixo), Pierre Alcanfôr (bateria) e Pedro Saddi (piano) de forma mais “suave”, inspirados pela sonoridade do Radiohead da fase The Bends ou pelos discos iniciais do Placebo, Grandes Infiéis trabalho de 2005 arremessava a sonoridade e as letras da banda para dentro de uma musicalidade tocada pelo punk, sem se desvincular das temáticas do passado. Com o quarto álbum, entretanto, todos os referenciais de outrora parecem servir de escada para quem uma instrumentação pesada assuma a liderança, entregando a maturidade da banda de forma áspera e irônica.

Em 14 faixas, Cupertino e os demais integrantes fazem com que as afáveis canções de outrora, como Nada Sério, Feche Seu Corpo e Empresta-me o Ábaco sejam completamente esquecidas em meio a saraivada de guitarras proporcionadas por canções aos moldes de O Anti-Herói (Parte I), Missão de Paz na Africa e principalmente por O Interrogatório. A faixa consegue em pouco mais de quatro minutos transitar por um grandioso número de terrenos musicais, explorando desde o punk, o shoegaze e o post-hardcore.

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Contudo são as letras do disco que trazem o verdadeiro realce ao trabalho do Violins. Difícil se desvincular de versos como “E eu garanto que seus filhos agradecem por crescer/ Sem ter que conviver com bichas e michês/ e pretos na TV, discípulos de Che/ Putas com HIV”, retirados de Grupo de Extermínio de Aberrações, que assim como as demais canções do álbum envergam por uma poética cínica, repleta de pessimismo, sinceridade e ironias amargas, que atacam dos mais diversos setores da sociedade aos seus indivíduos.

A agressividade das letras, aliada a falta de compreensão do público e de parte da mídia garantiram que faixas como a já mencionada Grupo de Extermínio de Aberrações acabassem censuradas em rádios, fazendo com que o grupo fosse inclusive denunciado no Ministério Público e convidado a se explicar sobre suas composições. A atitude, entretanto, apenas serviu para popularizar o trabalho da banda e pouco atrapalhou a divulgação do disco.

Tribunal Surdo acabou circulando nas principais listas dos grandes lançamentos de 2007, embora muitas optassem por simplesmente negar a existência do disco mediante seu conteúdo polêmico. Com o trabalho seguinte, Redenção dos Corpos (2008) a banda goiana daria sequência a mesma instrumentação e temática proposta neste disco, porém de forma mais branda. No mesmo ano o grupo anunciaria o fim de suas atividades, feito que logo seria deixado de lado por conta do retorno em 2009. O Violins ainda teria muito o que dizer.

Tribunal Surdo (2007)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Ludovic, Terminal Guadalupe e Poléxia
Ouça: O Anti-Heroi (Parte I)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.