Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 10/05/2011

Lucas Santtana
Brazilian/Dub/Experimental
http://www.myspace.com/santtana

Por: Cleber Facchi

Antes de alcançar seu ápice criativo com o álbum Sem Nostalgia (2009), o baiano Lucas Santtana teria em 2006 uma verdadeira preparatória de como se afundar em uma temática e extrair o máximo possível dela. Se no trabalho lançado em 2009 o músico transformaria um violão em uma verdadeira orquestra de sons variados, três anos antes seriam as nuances e reverberações do dub o ponto principal do projeto de Santtana. Acompanhado de um conjunto de músicos denominados como a Seleção Natural, 3 Sessions in a Green House (2006) é um trabalho harmonioso, onde cada canção se revela um organismo vivo e participante.

O nome do álbum já evidencia muita coisa sobre ele, afinal, a ideia de Santtana era a de gravar o disco todo em três sessões ao vivo, que transmitissem a mesma sonoridade despojada obtida durante os shows, claro, que com a mesma polidez alcançada somente dentro de estúdio. Para isso, o músico e os integrantes do Seleção Natural – Gil (bateria), David Cole (efeitos), Ricardinho (baixo), Leandro Joaquim (trompete), Maurício Zacharias (trombone), Bruno Levi (guitarra) e trio de percussionistas Leo Leobons, João Gabriel e Leo Saad – utilizaram do estúdio AR no Rio de Janeiro , de onde saíram com o trabalho bruto, sem retoques mas já dentro do espírito buscado.

Feito o registro, e o álbum foi parar nas mãos de Buguinha Dub, técnico de som da Nação Zumbi e uma das maiores entidades do dub em solo nacional, que além de coordenar os três dias de gravações foi o responsável por dar acabamento e mixagem ao projeto, suavizando todas as nuances  e centralizando o disco dentro da ambientação posteriormente definida. Ao término, o disco se define em uma composição de nove faixas, estabelecendo uma fértil ponte entre o Brasil e a Jamaica.

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3 Sessions in a Green House é o típico disco em que não basta apenas sentar e ouvir as faixas é preciso senti-las. Embora cada canção possa ser apreciada individualmente ou com sua ordem corrompida, o álbum se orienta de maneira fechada, com todas as faixas conectadas entre si, gerando uma sensação de unidade ao álbum. A todo momento despontam diálogos, ruídos, erros discretos e testes de som que dão ao registro essa sensação de naturalidade e um quase clima de “família” ao trabalho.

Assim como a música pop em Parada de Lucas (2006) e a bossa nova em Sem Nostalgia, os elementos tema dos trabalhos de Lucas Santtana surgem como uma espécie de matéria bruta, posteriormente lapidada ou reconfigurada em inúmeras e diferenciadas formas. Dessa maneira, o músico se permite passear pelo samba, o reggae, alguns finos trechos de rock e sonoridades regionais, sempre temperando tudo com os delays jamaicanos e as texturas viajadas do dub, onde o baixo sempre se sobressai como instrumento de destaque.

Realizado com o dinheiro captado em um edital da Petrobrás, o disco teve lançamento apenas em formato on-line e disponibilizado ao público de forma gratuita. O álbum conta ainda com as presenças de Tom Zé (na regravação de Ogodô ano 2000, do próprio músico), Gilmar Bola 8 (Nação Zumbi), do ator João Miguel e da jornalista norte-americana Phylis Huber (lendo trechos do livro The Waves, de Virginia Woolf). Sobra até para a canção Faixa Amarela, clássico de Zeca Pagodinho, ser regravada e entregue à mesma viagem instrumental, repleta de cores, texturas e sons abafados que compreendem todo o disco.

3 Sessions In A Greenhouse (2006)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Curumin, Wado e Cidadão Instigado
Ouça: Awô Dub

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.