Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 12/05/2011

Hurtmold
Brazilian/Experimental/Post-Rock
http://www.myspace.com/hurtmold

Por: Cleber Facchi

Depois de lançarem o conceitual Mestro em 2004, o sexteto paulistano Hurtmold deu uma pausa em suas atividades para que seus membros pudessem administrar novos projetos e consequentemente terem tempo para respirar antes de um futuro trabalho, afinal, o último disco do grupo parecia ter exaurido todas as forças dos integrantes tamanha a beleza de sua construção. O concentrado de texturas épicas, jazzísticas, experimentais e regionalistas posicionavam com honra o grupo dentro do efervescente cenário alternativo, deixando dúvidas se um dia pudesse ser superado.

A habilidade da banda, entretanto, mais uma vez comprovou que das seis mentes pensantes do projeto – Guilherme Granado (Teclado e vibrafone), Maurício Takara (bateria, vibrafone, trompete), Marcos Gerez (baixo), Mário Cappi (guitarra), Fernando Cappi (guitarra) e Rogério Martins (percussão e clarinete) – ainda sairiam inúmeros e instáveis fenômenos acústicos, feitos da mais variada soma de instrumentos e oriundos dos múltiplos gostos e preferências de seus criadores. Findadas as férias em 2007 e a banda retornou com mais uma pequena obra de sua exclusiva coleção de clássicos, um registro de sete faixas do mais fino rock instrumental.

Entretanto, classificar o quarto disco de estúdio da banda como um LP de “rock instrumental” talvez não seja a nomenclatura mais exata para o trabalho. Embora o sexteto sempre trouxesse para dentro de seus álbuns uma variada coleção de sons captados dos mais opositores ritmos foi através de Mestro que a banda entregou-se de vez ao experimentalismo, de maneira que ele evidenciasse com total propriedade uma coletânea de fórmulas e métricas musicais que ressaltassem os sons regionais brasileiros. Dessa forma, o homônimo disco de 2007 abandona quase totalmente os ideais voltados ao rock alternativo (típicos dos primeiros trabalhos da banda), em busca de um som muito mais jazzístico.

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Enquanto os discos anteriores – Et Cetera (2000), Cozido (2002) e Mestro (2004) – os membros da banda trabalhavam as canções de forma que elas atendessem aos mais variados requisitos instrumentais, Hurtmold se revelava como um disco muito mais conciso, com as canções dialogando entre si de maneira branda, como se fosse possível prever o que seria encontrado na faixa seguinte.

Ao mesmo tempo em que a percussão surge como o elemento de destaque do disco, funcionando como um fio condutor entre as sete músicas, as guitarras, baixo e teclado se solidificam em um bloco de som único, uma textura densa que percorre todo o disco, mas que esporadicamente se fragmenta a fim de evidenciar seus distintos elementos. Mesmo que seja o primeiro trabalho do sexteto totalmente livre de vocais, a sensação repassada por faixas como Deni e Halidjascar, por exemplo, não exclui a presença humana ou orgânica do registro, como se mesmo calados, os integrantes conversassem com o ouvinte através de seus instrumentos.

Por mais que o grupo se concentre em proporcionar um som mais conciso, focando em uma pegada que perpassa o jazz e o experimental através de contornos e ritmos nacionais e latinos, o disco também permite que a banda traga de volta alguns elementos encontrados em seus primeiros registros sem qualquer problema. Em Sabo temos uma clara percepção disso, já que mesmo se entregando na construção de um paredão policromático de sons conceituais, a banda finaliza a canção com um hardcore seco, algo que alimenta ainda mais o leque de nuances abertos pelo disco.

 

Hurtmold (2007)

Nota: 9.0
Para quem gosta de: Eu Serei a Hiena, Macaco Bong e Gigante Animal
Ouça: Halidjascar

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.