Pequenos Clássicos Modernos

/ Por: Cleber Facchi 19/01/2011

Totonho & Os Cabra
Brazilian/Electronic/Alternative
http://www.myspace.com/totonhooscabra

Com Totonho & Os Cabra o Brasil inteiro foi parar no espaço. Versos de repente eletrônicos, viola distorcida, triângulo experimental, pandeiro a laser e a Paraíba futurística fazem parte das composições de Sabotador de Satélite, um álbum em que passado e futuro talvez não estejam tão distantes assim. Com produção de Carlos Eduardo Miranda, o disco lançado em 2005 agrega elementos da cultura nordestina e popular com toques suaves de música eletrônica e elementos futurísticos, gerando uma simbiose tragicômica sobre a situação do nordeste.

Totonho atua desde o começo da década de 1980 como músico, quando cursou Faculdade de Arte e Educação, participou de um projeto social voltado para a cultura além de ter integrado uma cooperativa de músicos em João Pessoa na Paraíba. No começo dos anos 90 mudou-se para o Rio de Janeiro onde mais tarde formaria com a ajuda de alguns amigos músicos o Totonho & Os Cabra, projeto que seguiu se apresentando através do circuito alternativo carioca. Ainda no final da década chegou até Miranda uma demo com algumas das músicas compostas pela banda, o produtor se interessou e partiu para a produção do primeiro disco dos Cabra, mas é com o segundo disco que as composições de Totonho alcançam seu ápice.

Sabotador de Satélite se vale do mesmo Brasil, seus problemas sociais, seus risos, a conquista e a malandragem de seu povo, porém o situa dentro de um universo futurístico em que Totonho surge como mensageiro desse mesmo futuro não muito distante. O músico debate sobre o latifúndio no espaço sideral (“Uma redoma popular/ de dois ambientes, um pra viver/ outro pra sonhar/ quanto é que vai custar?”), faz metáforas sobre o amor e as viagens espaciais (“Eu mandei meu amor pro espaço/Agora o que é que eu faço com o vácuo da minha solidão?/Eu troquei meu quintal ensolarado/Por uma nave aos pedaços”), além de anunciar como único salvador desse mesmo futuro na faixa Totonho venha salvar o mundo.

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Mas é quando se vale da malandragem nas letras das canções que o disco mostra realmente sua força. Faixas como Jaspion do Pandeiro, Você ta doida pra me dar e Argemira demonstram um Totonho repleto de malícia e que vai buscar inspiração nos versos de humor dos repentistas, rindo da própria desgraça ou ainda comentando a vida alheia.

Para dar vida aos versos o músico e o produtor ligam com perfeição a música regional brasileira, como elementos do repente, forró, carimbó, samba e música tradicional nordestina com a música eletrônica e suas inúmeras vertentes. Dessa forma vem o “Trip-Hop repentista”, o “Forró em Drum ‘n’ Bass”, o “Synthsamba” e uma infinidade de novas vertentes que surgem com exclusividade no álbum. Mesmo os instrumentos como a viola, o cavaquinho ou o mais orgânico dos elementos tem seu som reconfigurado dentro da estética futurística espacial que acompanha o álbum.

O futuro de Totonho não tem nada em comum com aquele idealizado nos filmes de ficção científica. Nada de construções monumentais com formas excêntricas ou que reluz metal. O futuro para Totonho são casas de pau-a-pique em Marte, naves espaciais de madeira e a música tradicionalista ecoando pelas galáxias.

Sabotador de Satélite (2005)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Cidadão Instigado, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A
Ouça: Poeira Estrelar

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.