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Críticas

Jay-Z

: "4:44"

Ano: 2017

Selo: Roc Nation

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kanye West e Beyoncé

Ouça: 4:44, Smile e Family Feud

8.8
8.8

Resenha: “4:44”, Jay-Z

Ano: 2017

Selo: Roc Nation

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Kanye West e Beyoncé

Ouça: 4:44, Smile e Family Feud

/ Por: Cleber Facchi 07/07/2017

Jay-Z passou os últimos cinco anos muito mais interessado na forma de como distribuir a própria música do que a mensagem nela gravada. Ainda que a recente experiência com o Tidal – serviço de streaming do qual é proprietário –, seja o principal ponto referência desse novo “propósito” do rapper norte-americano, sobrevive na curiosa parceria com a Samsung e na estratégia como o mediano Magna Carta Holy Grail (2013) foi entregue ao público – nos smartphones da marca –, o princípio de toda essa articulação comercial.

Interessante perceber em 4:44 (2017, RocNation), 13º trabalho de estúdio do rapper, uma parcial inversão desse mesmo conceito. Entregue ao público gratuitamente (por meio do Tidal), o trabalho de apenas 36 minutos, um dos mais curtos dentro da discografia do artista, confirma um novo refinamento na composição dos beats, bases e, principalmente, nos versos articulados por Jay-Z. Um olhar atento, sempre minucioso, sobre a atual fase do rapper, próximo de completar 50 anos de vida – 30 deles dedicados ao Hip-Hop.

Centrado no cotidiano do próprio artista, o álbum conduzido por No I.D. – produtor que já trabalhou com nomes como Kanye West e Kendrick Lamar –, encontra na versátil imposição dos samples e pequenas interferências instrumentais o princípio para o fortalecimento dos versos. Músicas que discutem fama e cobiça (The Story of O.J.), mergulham em questionamentos particulares (Kill Jay Z) e refletem sobre as conquistas da comunidade negra, marca de Moonlight, composição inspirada pelo premiado filme de Barry Jenkins.

Mesmo dentro desse universo de inspirações tão diversas, sobrevive na relação com a família o principal componente para o natural crescimento do trabalho. Um bom exemplo disso está na emocionante Smile. Terceira faixa do disco, a canção que fala sobre os sorrisos sufocados dentro de cada núcleo familiar serve como um precioso exercício para a libertação da mãe do rapper. Parceria do de Jay-Z na canção, Gloria Carter fala sobre a descoberta e completa aceitação da própria homossexualidade – “Você pode imaginar que tipo de vida é essa? … Viver duas vidas, feliz, mas não livre“.

Cenas intimistas, fragmentos do dia a dia e confissões que alcançam melhor resultado durante a construção da faixa-título do disco. Ponto de partida para a formação do trabalho, a canção completa com a também intensa Family Feud, parceria com Beyoncé, nasce como um pedido de desculpas do rapper à esposa. “Eu nunca vou te tratar como deveria … Peço desculpas / O nosso amor era para durar eras / Mas eu o contive“, confessa enquanto o sample de Late Nights and Heartbreak, música interpretada por Hanna Williams, cresce ao fundo da composição. Versos marcados pela traição, vergonha e confesso arrependimento, como um diálogo com a poesia explorada no último ano em Lemonade (2016).

Produto do parcial isolamento sentimental, amadurecimento e novas relações de Jay-Z, 4:44 ganha fôlego e cresce (ainda mais) na breve interferência de um seleto grupo de colaboradores. São nomes como Frank Ocean em Caught Their Eyes, Damian Marley na atmosfera quente de Bam, The-Dream nos versos de apoio em Marcy Me. Isso sem contar com o fino catálogo de vozes que explode nos samples recortados de veteranos como Stevie Wonder, Nina Simone e The Fugees. Um novo capítulo dentro da extensa discografia do rapper, ainda relevante e capaz de surpreender o próprio público.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.