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Críticas

The War On Drugs

: "A Deeper Understanding"

Ano: 2017

Selo: Atlantic

Gênero: Rock Alternativo, Synthpop

Para quem gosta de: Kurt Vile e Real Estate

Ouça: Holding On, Pain e Up All Night

8.8
8.8

Resenha: “A Deeper Understanding”, The War On Drugs

Ano: 2017

Selo: Atlantic

Gênero: Rock Alternativo, Synthpop

Para quem gosta de: Kurt Vile e Real Estate

Ouça: Holding On, Pain e Up All Night

/ Por: Cleber Facchi 28/08/2017

Poucos artistas atuais parecem entender tão bem a atmosfera e o som produzido no começo dos anos 1980 quanto Adam Granduciel. Inspirado de maneira confessa pelo trabalho de veteranos como Bruce Springsteen, Tom Petty, Neil Young e Dire Straits, o cantor e compositor norte-americano fez da forte relação com o passado um poderoso estímulo criativo para a curta discografia do The War On Drugs. Uma sequência de obras claramente inspiradas pelo passado, porém, dotadas de um raro frescor e fino toque de renovação.

Primeiro registro de inéditas da banda desde o elogiado Lost in the Dream (2014), A Deeper Understanding (2017, Atlantic) nasce como uma clara continuação do material apresentado há três anos pelo grupo original da Filadélfia, Pensilvânia. Em um intervalo de quase 70 minutos de duração, Granduciel (guitarra, sintetizadores, voz) e os parceiros de banda, os músicos David Hartley (baixo, guitarras, Robbie Bennett (teclado, pianos, guitarras), Charlie Hall (bateria, órgão), Jon Natchez (saxofone, sintetizadores) e Anthony LaMarca (guitarra, sintetizadores), se aventuram na composição de um som que mesmo nostálgico e referencial, mantém sua identidade.

Grandioso, como tudo aquilo que Granduciel vem produzindo desde o maduro Slave Ambient (2011), A Deeper Understanding faz de cada composição um precioso exercício criativo. Imagine a força instrumental e poética de músicas como Under The Preassure e Red Eyes, porém, aplicada em toda a superfície do presente álbum. Do momento em que tem início em Up All Night, composição que mostra o forte diálogo entre guitarras carregadas de efeito e a bateria de Charlie Hall, cada fragmento do disco se transforma em um trabalho de imediata comunicação com o ouvinte. Uma lenta sobreposição de faixas que se transformariam em clássicos imediatos caso lançadas há três ou mais décadas.

Estreia do grupo em um selo de grande porte, a gigante Atlantic Records, A Deeper Understanding mostra que Granduciel e os parceiros de banda conseguiram se esquivar dos tropeços típicos de uma obra de transição. Evidente é a força e transformação do grupo durante toda a montagem do trabalho, autoral, mesmo dono de um som que dialoga com uma parcela ainda maior do público. São faixas como a extensa Thinking of a Place, com quase 12 minutos de duração, e outras como Holding On, Strangest ThingNothing To Find, em que o músico norte-americano flutua em meio a longos solos de guitarra, sintetizadores etéreos, batidas e melodias espaçadas, sempre atento aos detalhes.

Parte expressiva dessa profunda transformação se reflete não apenas na forma como os arranjos delicadamente abastecem o registro, mas na força dos sentimentos expostos por Granduciel. “Vá para a cama agora eu posso dizer / A dor está a caminho / Olhe para longe, um dominó cai“, canta na dolorosa Pain, música capaz de sintetizar o romantismo amargo e abandono do eu lírico que orienta o trabalho da banda desde o antecessor Lost in the Dream. Um imenso labirinto sentimental, como se o vocalista convidasse o ouvinte a se perder em meio a versos marcados pela confessa intimidade.

Dividido entre instantes de profundo recolhimento (Knocked Down, Pain) e atos de expressiva grandiosidade instrumental e poética (Nothing To Find, Up All Night), A Deeper Understanding evidencia o cuidado e forte interferência de cada integrante do The War On Drugs na composição do disco. São quase cinco décadas de referências que se amarram dentro de um ambiente criativo pontuado pela força dos sentimentos e histórias detalhadas pela voz embriagada de Granduciel. Versos consumidos pela dor, melodias inebriantes e um fino toque de nostalgia que delicadamente amplia o território musical anteriormente desbravado pela banda.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.