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Críticas

Radiohead

: "A Moon Shaped Pool"

Ano: 2016

Selo: XL

Gênero: Rock Alternativo, Experimental

Para quem gosta de: Björk e Jonny Greenwood

Ouça: True Love Waits e Daydreaming

9.0
9.0

Resenha: “A Moon Shaped Pool”, Radiohead

Ano: 2016

Selo: XL

Gênero: Rock Alternativo, Experimental

Para quem gosta de: Björk e Jonny Greenwood

Ouça: True Love Waits e Daydreaming

/ Por: Cleber Facchi 12/05/2016

Apenas não vá embora
Não vá embora
O verdadeiro amor espera
Em sótãos assombrados

Originalmente apresentada em 1995, durante a turnê de lançamento do álbum The Bends e, posteriormente, registrada como parte da coletânea ao vivo I Might Be Wrong: Live Recordings (2001), a derradeira True Love Waits nasce como o símbolo do novo registro de estúdio do Radiohead. Sucessor do eletrônico The King of Limbs (2011), A Moon Shaped Pool (2016, XL) chega ao público como uma obra segura, essencialmente precisa. Um regresso (in)voluntário ao imenso acervo de composições e temas instrumentais produzidos pelo quinteto inglês nas últimas duas décadas.

Das 11 faixas que recheiam o disco, pelo menos seis foram executadas em apresentações ao vivo ou exploradas em diferentes fases e projetos do grupo inglês. Escolhida para a abertura do disco, Burn The Witch, por exemplo, teve fragmentos da própria letra publicados na contracapa do álbum Hail To The Thief, de 2003. A mesma canção ainda foi objeto de discussão entre os integrantes durante as sessões de Kid A (2001) e In Rainbows (2007), sendo finalizada há poucos meses. Mesmo ancorado no passado, A Moon Shaped Pool está longe de parecer uma preguiçosa reciclagem de conceitos antigos. Prova disso está na busca do quinteto por uma som remodelado, orquestral, estímulo para a série de colaborações com os músicos da London Contemporary Orchestra.

Se há cinco anos The King of Limbs nascia como uma continuação do material produzido por Thom Yorke em carreira solo, ao visitar faixas como Glass Eyes e True Love Waits é fácil perceber o interesse da banda pela carreira solo do guitarrista Jonny Greenwood. Uma delicada tapeçaria de vozes e sons atmosféricos, por vezes oníricos. Não por acaso, Paul Thomas Anderson, cineasta que convidou Greenwood a produzir a trilha sonora de filmes como There Will Be Blood (2007) e The Master (2012) assume a direção do delicado clipe de Daydreaming.

A mesma sutileza empregada na construção dos arranjos ainda serve de estímulo para a projeção dos versos que lentamente dançam no interior do trabalho. Letras sufocadas por temas existencialistas – “nós estamos felizes apenas em servir”–, relacionamentos fracassados – “Corações partidos fazer chover / Corações partidos”–, medos – “Amor, venha até mim antes que seja tarde demais” – e declarações de amor angustiadas – “Apenas não vá / Não vá”. Uma fuga parcial dos temas políticos que sempre acompanharam a banda, preferência que faz do registro um dos trabalhos mais delicados e intimistas de toda a discografia do grupo britânico.

Fortemente influenciado pela separação de Thom Yorke e a artista plástica Rachel Owen, com quem o músico britânico manteve um relacionamento durante 23 anos, A Moon Shaped Pool utiliza da temática do rompimento como um caminho não óbvio para a construção de grande parte das canções. “Há uma nave espacial bloqueando o céu / E não há onde se esconder / Você corre de volta e tapa os ouvidos / Mas este é o som mais alto que você já ouviu”, canta em Decks Dark, música que utiliza de ovnis e extraterrestres como uma metáfora para os tormentos do cantor. Armadilhas sentimentais que se armam durante toda a construção da obra, violenta mesmo na serenidade de suas canções.

Conceitualmente posicionado em algum lugar entre a melancolia de OK Computer (1997) e os experimentos climáticos que habitam em Kid A (2000), A Moon Shaped Pool mostra o esforço de uma banda que mesmo em uma explícita zona de conforto, lentamente seduz e convence o ouvinte. A mesma sensação de chegar em casa depois de uma longa viagem, perceber que todos os móveis da sala continuam ali, porém, foram mudados de lugar.

 

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.