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Críticas

Gal Costa

: "A Pele do Futuro"

Ano: 2018

Selo: Biscoito Fino

Gênero: MPB, Pop Rock

Para quem gosta de: Maria Bethânia e Caetano Veloso

Ouça: Palavras No Corpo, Minha Mãe e Cuidando de Longe

8.5
8.5

Resenha: “A Pele do Futuro”, Gal Costa

Ano: 2018

Selo: Biscoito Fino

Gênero: MPB, Pop Rock

Para quem gosta de: Maria Bethânia e Caetano Veloso

Ouça: Palavras No Corpo, Minha Mãe e Cuidando de Longe

/ Por: Cleber Facchi 04/10/2018

O amor é o componente central de A Pele do Futuro (2018, Biscoito Fino). Do momento em que tem início, na nostálgica Sublime (“Insistir em nós seria um crime / O amor que a gente sente / O amor na vida da gente / Não pode ser menos do que sublime“), passando pela composição de faixas exageradamente românticas, caso de Palavras no Corpo (“Esquecer, amor / Poucos versos são precisos / Ninguém diz eu te amo“), uma confessa homenagem à Amy Winehouse, cada elemento do disco encontra na força dos sentimentos, desilusões e poemas apaixonados o principal componente criativo para dialogar com o ouvinte.

Sequência ao precioso Estratosférica (2015), obra em que decidiu revisitar o som produzido no início da carreira, A Pele do Futuro, trabalho conta com produção assinada pelo experiente Pupillo (Nação Zumbi) e direção artística de Marcus Preto, avança em relação ao tempo, lembrando os registros da cantora no final dos anos 1970 e início da década de 1980. Composições que transitam entre o samba, o jazz, o rock e o pop melancólico, proposta que muito se assemelha ao material entregue em obras como Água Viva (1978), Gal Tropical (1979) e Fantasia (1981).

Vejo como um olhar para frente, mas também para trás, para tudo o que foi vivido”, disse em entrevista ao Estadão. De fato, tão logo tem início, cada elemento de A Pele do Futuro parece dançar pelo tempo, costurando ideias, referências e colaboradores vindos de diferentes épocas. Não por acaso, Gal decidiu reforçar o contato com parceiros de longa data, caso de Gilberto Gil (Vida Passageira), Guilherme Arantes (Puro Sangue) e Djavan (Dentro da Lei), porém, estreitando ainda mais a relação com jovens compositores da nossa música. Nomes como Tim Bernardes (Realmente Lindo) e Dani Black (Sublime), responsáveis por garantir novo fôlego ao material incorporado pela cantora.

Vem justamente desse claro desejo em explorar diferentes campos da música brasileira que Gal acabou encontrando uma das principais faixas do disco, Cuidando de Longe. Inusitada parceria com Marília Mendonça, a canção escolhida a dedo reflete com naturalidade a poesia romântica que rege o álbum. “Tô te cuidando de longe / Tô te amando do meu canto / Diga que está feliz / Que daqui eu vou me virando“, canta em um exercício de pura entrega do eu lírico. Surgem ainda criações como Abre-Alas do Verão, parceria entre Erasmo Carlos e Emicida, a já citada Palavras no Corpo, com letra de Omar Salomão e arranjos de Silva, além, claro, da amarga Livre de Amor, faixa em que a cantora abraça a poesia intimista de Adriana Calcanhotto.

Nada que se compare ao lirismo sensível que invade os versos de Minha Mãe. Produto da parceria entre Jorge Mautner e César Lacerda, a canção revela ao público o amor em seu estágio mais puro, regatando memórias afetivas, o peso da morte e os laços que conectam mãe e filho. Frações poéticas que transitam entre a dor e o acolhimento, consolidando de maneira sensível o esperado reencontro de Gal com a cantora Maria Bethânia, com quem divide a faixa até o último verso. “Quando eu fico muito triste / Eu pego a fotografia da minha mãe / E aperto bem forte no meu peito / Minhas mãos param de tremer / Segurando a fotografia / E meu coração bate mais forte“, cresce a letra da canção, sem pressa, costurando melodias tristes lançadas por uma sanfona econômica e percussão sempre diminuta.

Obra de emoções, escolhas inteligentes e sentimentos confessos, A Pele do Futuro perpetua a boa fase da artista baiana, ampliando parte do som jovial que vem sendo explorado desde o eletrônico Recanto (2011). Entre versos guiados pela forte universalidade dos temas, Gal e seus parceiros de banda se concentram em explorar todos os espectros da vida amorosa, mergulhando em instantes de pura libertação, incertezas da vida a dois ou mesmo versos consumidos pela dor, proposta que faz do presente álbum um novo e delicado capítulo na extensa discografia da cantora.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.