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Críticas

Adrianne Lenker

: "Abysskiss"

Ano: 2018

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Folk, Dream Pop

Para quem gosta de: Big Thief, Tomberlin e Julien Baker

Ouça: Symbol, 10 Miles e Cradle

8.0
8.0

Resenha: “Abysskiss”, Adrianne Lenker

Ano: 2018

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie, Folk, Dream Pop

Para quem gosta de: Big Thief, Tomberlin e Julien Baker

Ouça: Symbol, 10 Miles e Cradle

/ Por: Cleber Facchi 16/10/2018

Seja como integrante do Big Thief, com que lançou o doloroso Capacity (2017), há poucos meses, ou mesmo em carreira solo, Adrianne Lenker sempre fez das próprias desilusões a matéria-prima para a delicada composição dos versos e melodias consumidas pela dor. Um permanente exercício de exposição sentimental e entrega, angústia que se reflete com naturalidade a cada novo fragmento poético do segundo e mais recente registro autoral da norte-americana Abyskiss (2018, Saddle Creek).

Sequência ao material entregue há quatro anos, em Hours Were The Birds (2014), o novo álbum mostra Lenker em sua forma mais sensível, costurando melodias acústicas em meio a poemas guiados pela profunda honestidade dos temas. São versos cíclicos, como mantras que se entrelaçam em meio a movimentos sutis das guitarras e violões. “Ninguém pode ser meu homem, seja meu homem, seja meu homem … ninguém pode ser minha mulher, seja minha mulher, seja minha mulher“, canta de forma angustiada e incessante em From, conduzindo o ouvinte para o interior da faixa, como uma passagem para a mente atormentada da própria artista, sempre orientada por relacionamentos fracassados.

Morrer em seus braço / Suas palavras se formando novamente / Nos beijamos com força e selvageria / Subir no escuro / Como pássaros rezando na pele / Oramos com nosso oxigênio“, canta na derradeira 10 Miles, faixa que se espalha em meio a ambientações caseiras e versos sorumbáticos, lembrando os trabalhos de Grouper em The Man Who Died in His Boat (2013). São paisagens instrumentais que se revelam em pequenas doses, como se cada movimento servisse para despir Lenker sentimentalmente.

Exemplo disso ecoa com naturalidade em Symbol, sexta faixa do disco. Intima da mesma melancolia acolhedora que embala o trabalho de veteranos como Elliott Smith e Bright Eyes, a canção ganha forma aos poucos, sem pressa, revelando arranjos detalhistas, vozes sobrepostas e melodias atmosféricas que servem de complemento aos versos lançados pela cantora – “Esse sorriso sempre me faz bem … O símbolo do seu amor é tempo“. Um ato de profunda entrega, cuidado que se reflete tão logo o disco tem início, em Terminal Paradise, e segue em meio a faixas como From e Blue and Red Horses, dois dos momentos mais sensíveis do trabalho.

Interessante notar que mesmo guiado pela poesia confessional da artista, Abysskiss a todo momento se abre para a construção de faixas marcadas pelo profundo lirismo e riqueza dos temas. É o caso de Cradle, música que serve de passagem para um universo próprio da musicista norte-americana. Versos maquiados pela forte subjetividade, elemento que se conecta ao refinamento bucólico dos arranjos, como um breve diálogo de Lenker com a obra de Vashti Bunyan, Sufjan Stevens e outros artistas que sempre transformaram os próprios sentimentos em músicas.

Doloroso e acolhedor na mesma proporção, Abysskiss avança em relação ao material entregue pela artista no antecessor Hours Were The Birds. Trata-se de uma obra guiada em essência pelo completo minimalismo dos elementos, proposta que curiosamente acaba fazendo do segundo registro de Adrianne Lenker em carreira solo uma obra imensa, maior a cada nova audição, efeito direto da base detalhista, confissões sentimentais e conflitos que orientam a experiência do ouvinte até o último instante do álbum.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.