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Críticas

Juliano Gauche

: "Afastamento"

Ano: 2018

Selo: EAEO Records

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Bruno Souto

Ouça: Longe, Enfim e Dos Dois

7.7
7.7

Resenha: “Afastamento”, Juliano Gauche

Ano: 2018

Selo: EAEO Records

Gênero: Indie, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Tatá Aeroplano e Bruno Souto

Ouça: Longe, Enfim e Dos Dois

/ Por: Cleber Facchi 17/05/2018

Os primeiros seis minutos de Afastamento (2018, EAEO Records), terceiro álbum de Juliano Gauche em carreira solo, são fundamentais para entender o som produzido pelo cantor e compositor capixaba. Entre versos semi-descritivos, enigmáticos, o ex-integrante do grupo Solana convida o ouvinte a se perder em um universo de referências particulares que invadem a inaugural Silmar Saraiva. São memórias, personagens e recordações da infância em Ecoporanga, município localizado no interior do Espírito Santo, mas que se fazem presentes durante toda a execução do trabalho.

Em tom pessimista, Gauche canta: “Os urubus vestem ternos de fibra e corpos para fingir que a solução pra essa dor é mentir, é lesar e depois se esconder / Eu sinto falta de mim, quando ninguém aparece e explode“. Um indicativo da poesia amargurada, ainda que libertadora, que acompanha o ouvinte durante toda a execução da obra. Instantes em que o músico se fecha dentro de um universo contemplativo, porém, íntimo do ouvinte, como se trocasse experiências.

Exemplo disso está no romantismo torto de Longe, Enfim (“Me atravesse com sua força / E o calor a nos aliviar dos nossos dias sem encontrar o que agora nos leva pra longe, enfim“) e Dos Dois (“Foi voando para um novo amor / Ele, esperando pelo mesmo amor / Que tanto só fez mal / Que tanto machucou / Ela disse, eu não suporto mais / Ele, meio morto, cabisbaixo, concordou“). Composições em que Gauche se dedica a explorar os encontros e desencontros de um relacionamento amoroso, flutuando entre a saudade e necessidade de renovação.

Musicalmente econômico quanto próximo do material apresentado há dois anos, em Nas Estâncias de Dzyan (2016), o trabalho de oito faixas e pouco mais de 30 minutos de duração ganha forma aos poucos. Frações instrumentais que valorizam cada fragmento poético lançado pelo artista, reflexo da forte interferência dos músicos Daniel Lima (baixo), Gustavo Souza (bateria e percussão), João Leão (teclado) e Kaneo Ramos (guitarra), parceiros de Gauche durante toda a execução da obra.

São inserções pontuais de teclados e elementos percussivos, guitarras cíclicas que apontam para a boa fase do krautrock, além, claro, de diálogos minimalistas com o rock da década de 1970. Parte dessa estrutura vem da clara presença de Fernando Catatau como produtor do disco. É como se em Afastamento, Gauche e Catatau despissem parte da estrutura nostálgica incorporada à psicodelia brega do Cidadão Instigado, revelando ao público a construção de um som esquelético, mas não menos detalhista e hipnótico, sempre em proximidade aos versos lançados pelo cantor.

Completo pela presença dos músicos Daniel Viana (viola), Dustan Gallas (teclado e percussão), Edson Van Gogh (guitarra), Felipe Crocco (guitarra), Kaneo Ramos (viola), além, claro, do projeto gráfico assumido por Simon Fernandes, Afastamento carece de tempo até ser totalmente absorvido pelo ouvinte. Mais do que revelar, Juliano Gauche parece brincar com a manipulação das formas instrumentais e versos, ocultando um mundo de referências e temas pessoais ao fundo de cada composição.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.