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Ano: 2018

Selo: Flecha de Prata

Gênero: Pop Alternativo, MPB, R&B

Para quem gosta de: Ava Rocha, Jaloo e Céu

Ouça: A Estação, Spiritual e Inocente

7.8
7.8

Resenha: “Alice”, Alice Caymmi

Ano: 2018

Selo: Flecha de Prata

Gênero: Pop Alternativo, MPB, R&B

Para quem gosta de: Ava Rocha, Jaloo e Céu

Ouça: A Estação, Spiritual e Inocente

/ Por: Cleber Facchi 23/01/2018

Tudo que eu quero te falar / É muito simples, muito simples mesmo / Tudo que eu quero te falar / Não é tão difícil, não é tão difícil“. A letra cíclica que abre a crescente Spiritual, canção escolhida para inaugurar o novo álbum de Alice Caymmi, Alice (2018, Flecha de Prata), funciona como um poderoso resumo da poesia descomplicada que orienta o ouvinte durante toda a execução da obra. A busca declarada da cantora e compositora carioca por um som ainda mais acessível, pop, como uma clara continuação do universo conceitualmente desbravado há quatro anos, durante a produção do antecessor Rainha dos Raios (2014).

Obra de possibilidades, produto do incessante esforço em provar de novas referências instrumentais, o álbum de nove faixas faz de cada fragmento o princípio de um novo ambiente a ser desvendado pelo ouvinte. Como indicado durante o lançamento de Louca, música originalmente gravada pela mexicana Thalia, Caymmi e a parceira de produção, a conterrânea Bárbara Ohana, buscam não apenas dialogar com uma parcela ainda maior do público, como transportar para dentro de estúdio a mesma energia das apresentações ao vivo da artista — vide o registro da última turnê de Caymmi.

Não por acaso, cada verso lançado no decorrer da obra parece pensado para grudar na cabeça do ouvinte. Do romantismo confessional em A Estação — “Bem que eu tentei me iludir / Achando que seria tudo casual / Vem você sorrindo e me revira o mundo / Agora vou por onde o teu sorriso me guiar” —, ao refrão quente que explode em Vin — “Você bebe quando tem vin / Beija quando tem / Fala quando tá a fim / Eu também” —, música que transporta Caymmi para o mesmo território de Anitta e outros nomes do pop nacional, difícil passear pelo disco e não ser prontamente arrastado pela voz (e sentimentos) da cantora.

Talvez menor quando observamos as paisagens instrumentais detalhadas em Como Ves, Homem e todo o arsenal montado para Rainha dos Raios, em Alice, Caymmi dialoga com o pop sem necessariamente fazer disso o princípio para uma obra descartável. Perceba como a voz ainda serve de instrumento para o rico pano de fundo de A Estação, dialogando com a mesma estrutura do homônimo debute de 2012. Em Inocente, composição que conta com a assinatura da cantora Ana Carolina, uma chuva de sintetizadores e batidas minimalistas, passagem para o R&B detalhado de forma inteligente pela artista. Mesmo o flerte com o trap na eletrônica Sozinha parece jogar de forma inteligente com possíveis clichês.

Dentro desse cenário marcado pela transformação, Caymmi aproveita para dialogar com dois nomes de peso da recente fase da música brasileira. Em Inimigos, a rima certeira de Rincon Sapiência — “Leve aquilo que é seu / Mas não peça pra pagar você / Nada a ver, nada a ver / Pilantragem em excesso / Não tem advogado / Olho no olho é o processo” —, um complemento direto ao misto de canto e desabafo lançado pela cantora — “O meu dinheiro eu que fiz / Minha carreira eu que faço / O meu cabelo eu que pago / O seu dinheiro não me atrai“. Na derradeira Eu Te Avisei, um bem-sucedido encontro com Pabllo Vitar, ponto de partida para um dos instantes de maior libertação do trabalho — “Eu vou achar alguém / Melhor do que você“.

Coeso naquilo em que busca desenvolver, Alice cresce como um fino retrato da alma atormentada, confissões românticas, tormentos e conquistas não apenas de sua interprete, mas do próprio ouvinte. Salve instantes de breve desequilíbrio, como em Agora, música que parece deslocada do restante da obra, nítido é o tratamento ritmado dado ao trabalho, como se cada composição servisse de base para a faixa seguinte. Fragmentos que mostram o esforço da cantora em provar de novas sonoridades, porém, a todo instante capaz de regressar ao mesmo universo desbravado nos dois primeiros álbuns de estúdio.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.