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Críticas

Alice Glass

: "Alice Glass"

Ano: 2017

Selo: Loma Vista

Gênero: Eletrônica, Glitch Pop

Para quem gosta de: Purity Ring e HEALTH

Ouça: Without Love e Forgiveness

7.0
7.0

Resenha: “Alice Glass”, Alice Glass

Ano: 2017

Selo: Loma Vista

Gênero: Eletrônica, Glitch Pop

Para quem gosta de: Purity Ring e HEALTH

Ouça: Without Love e Forgiveness

/ Por: Cleber Facchi 24/08/2017

Não seria uma surpresa se o primeiro registro de Alice Glass em carreira solo fosse um completo fracasso. Depois de uma década como integrante do Crystal Castles, quem poderia conhecer melhor o trabalho da artista canadense do que o velho parceiro de banda, o produtor Ethan Kath? Entretanto, contrariando toda e qualquer expectativa negativa, a cantora e compositora encontra no primeiro EP autoral o estímulo para um novo (e ainda mais interessante) ambiente criativo, percepção reforçada em cada um das sexto faixas do material.

Mérito apenas de Glass? Longe disso. Para a produção do trabalho, a artista canadense contou com a colaboração do parceiro de longa data, o músico Jupiter Keyes, um dos integrantes do HEALTH e também responsável por uma das principais composições já produzidos para o duo canadense, vide a riqueza das texturas e bases eletrônicas na intensa Crimewave. Um cuidado que se reflete em cada fragmento do presente álbum, principalmente na inaugural Without Love.

Enquanto Glass confessa os próprios sentimentos em meio a vozes robóticas e sujas — “Como você vai mentir sobre mim agora? / Eu vejo você me observar do subterrâneo / Eu estava perdida, esperando ser encontrada? Como você vai mentir? … Eu quero ter uma chance / Eu não sou apenas sangue e tecido” —, Keyes se concentra na produção de um rico pano de fundo instrumental. Sintetizadores e batidas que flutuam em meio a ambientações raivosas, porém, preservando a todo instante o canto doloroso da artista.

Próxima e ao mesmo tempo distante da curta discografia do Crystal Castles, a cantora parece pular de um campo musical para outro durante toda a execução da obra. Se em instantes a cantora emula uma série de referências do som produzido na década de 1980, vide Forgiveness, música que parece produzida pelo conterrâneo TR/ST, em Natural Section, composição que chega logo em sequência, Glass invade o mesmo território experimental do HEALTH, mergulhando em um industrial-pop que muito lembra o single Stillbirth, lançado no último ano.

Entre instantes de breve aceleração e atos de parcial recolhimento, Glass testa os próprios limites. Perfeita representação disso está na separação entre White Lies e Blood Oath. De um lado, uma canção que dialoga com a mesma ambientação melódica de artistas como Purity Ring e Grimes, no outro, um exercício ruidoso, perturbador, como se a cantora e o parceiro de produção costurassem décadas de referências sujas em um mesmo ambiente conceitual.

Maior e conceitualmente mais interessante que o próprio trabalho de Ethan Kath no mediano Amnesty (I), de 2016, o homônimo EP de seis faixas revela ao público uma artista ainda presa à própria herança musical, porém, capaz de se reinventar a cada nova composição. Em um universo de batidas tortas, ruídos e melodias eletrônicas, versos que confirmam a identidade e força poética de Glass, ainda tão criativa e relevante quanto na sequência de obras produzidas como integrante do Crystal Castles.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.