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Críticas

Spiritualized

: "And Nothing Hurt"

Ano: 2018

Selo: Bella Union / Fat Possum

Gênero: Space Rock, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Mercury Rev e Primal Scream

Ouça: A Perfect Miracle e I'm Your Man

8.0
8.0

Resenha: “And Nothing Hurt”, Spiritualized

Ano: 2018

Selo: Bella Union / Fat Possum

Gênero: Space Rock, Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Mercury Rev e Primal Scream

Ouça: A Perfect Miracle e I'm Your Man

/ Por: Cleber Facchi 17/09/2018

Eu gostaria de sentar e sonhar com você um milagre perfeito / Eu pegaria o vento e mandaria todos os meus beijos para você / Pegaria os pássaros e lhes ensinaria todas os versos de músicas de amor que conheço / E eu os faria voar e cantar para você“. O romantismo embriagado de A Perfect Miracle, faixa de abertura de And Nothing Hurt (2018, Bella Union / Fat Possum), oitavo álbum de estúdio na carreira do Spiritualized, diz muito sobre os sentimentos que guiam o personagem de Jason Pierce, o cosmonauta J. Spaceman, durante toda a execução da obra.

Primeiro álbum de inéditas do músico britânico em seis anos, o sucessor do enérgico Sweet Heart Sweet Light (2012) mostra Pierce em uma clara zona de conforto, resgatando e emulando de maneira inteligente melodias originalmente testadas no clássico Ladies and Gentlemen We Are Floating in Space (1997). Frações poéticas e instrumentais que convidam o ouvinte a se perder em um território mágico, onde cada elemento do disco remonta cenas e acontecimentos guiados pelo mais profundo comprometimento romântico do eu lírico, cuidado que se reflete até o último verso do disco, em Sail On Through.

Detalhista, como tudo aquilo que Pierce vem produzindo desde Lazer Guided Melodies (1992), And Nothing Hurts exige tempo e um ouvido apurado até se revelar por completo para o ouvinte. São camadas instrumentais, arranjos de cordas, coros de vozes e guitarras que encolhem e crescem a todo instante, revelando o cuidado do músico durante toda a execução da obra. Exemplo disso está em Let’s Dance, música que resgata o pop orquestral dos anos 1960/1970, confessando algumas das principais referências do Spiritualized, como The Beach Boys e Scott Walker.

A principal diferença em relação aos últimos trabalhos de Pierce está no forte caráter pessoal que embala a composição dos versos. “Eu poderia ser fiel, honesto e verdadeiro / Segurando meu coração para você / Fiel para sempre / Dedicado o tempo todo / Mas se você quiser desperdiçar, desbotado sem educação / Fazendo o melhor que ele pode / Eu sou seu homem, sou seu homem“, canta em I’m Your Man, perfeita síntese da poesia melancólica e intimista que rege o disco. Composições guiadas por conflitos recentes do músico inglês, mas que acabam se relacionando com as desilusões de todo e qualquer indivíduo.

Difícil não se deixar guiar pela poesia triste de Damaged (“E eu Quero apenas fechar meus olhos / Sinto que estou vivendo / Sinto que estou vivo / Embrulhado em trevas … Querida, estou perdido / E eu estou quebrado / Por você“) e The Morning After (“Não ligue na manhã seguinte / Não vai parar a dor e o riso“). Composições em que Pierce se revela por completo, dialogando com o ouvinte enquanto guitarras carregadas de efeitos e melodias detalhistas parecem cercar o ouvinte, mostrando a força e entrega do músico britânico dentro de estúdio.

Concebido em um longo espaço de tempo, sem pressa, And Nothing Hurt mostra o esmero e entrega de Pierce em cada composição. São delírios psicodélicos e sentimentais que jogam com a experiência do ouvinte durante toda a execução da obra. Impossível passar por músicas como The Prize e a já citada A Perfect Miracle e não se sentir atraído pelas melodias e versos lançados pelo músico. Um exercício de profunda entrega sentimental e criativa, prova de que mesmo passadas duas décadas desde o ápice da banda, Pierce e seus parceiros continuam a produzir um material tão relevante quanto em início de carreira.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.