Resenha: “Animania”, INKY

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2016

Artista: INKY
Gênero: Rock, Indie Rock, Rock Alternativo
Acesse: http://inkymusic.bandcamp.com/

 

Quem já assistiu a um show da INKY —mesmo sem conhecer as canções da banda — sabe como é fácil ser hipnotizado pela eufórica performance do quarteto paulistano. Paredões de guitarras em um constante duelo com o baixo de Guilherme Silva, o ritmo frenético das batidas que se projetam como um alicerce para os sintetizadores insanos de Luiza Pereira. Interessante perceber em Animania (2016, Uivo Records), segundo álbum de inéditas do grupo, uma completa transposição da mesma energia das canções apresentadas vivo para dentro de estúdio.

Sucessor do elogiado Primal Swag, de 2014, o novo registro cresce como a fuga declarada de uma possível zona de conforto. Parcialmente livre do conceito “eletrônico” que parecia direcionar o trabalho entregue pela banda há dois anos, o álbum de oito faixas cresce em um perfeito diálogo entre o uso de elementos sintéticos e detalhes orgânicos, efeito da ativa interferência de elementos percussivos e instrumentos de sopro que passeiam de forma expressiva ao fundo do trabalho.

Assertivo do primeiro ao último instante, Animania é uma obra que se esquiva de possíveis excessos. Dos versos ao uso detalhado dos instrumentos, nada parece descartável no interior do álbum. Cada uma das composições presentes no interior do disco estão ali por algum motivo. Do momento em que a crescente Parallax convida o ouvinte a dançar, parece difícil escapar da solução descomplicada de vozes, batidas e temas urgentes que escapam com naturalidade das guitarras de Stephan Feitsma.

Com produção de Guilherme Kastrup – músico que trabalhou com Elza Soares no elogiado A Mulher do Fim do Mundo (2015) –, o sucessor de Primal Swag reforça o interesse da banda em provar de novas sonoridades. Em Devil’s Mark, segunda faixa do disco, um perfeito exemplar da fina transformação assumida pelo grupo. Entre sintetizadores sujos, a passagem para a chegada de um naipe de metais orquestrados por membros do Bixiga 70. Estímulo para a formação de um som versátil, quente, quase uma desconstrução do material lançado há dois anos pelo grupo.  

Faixa de encerramento do disco, In The Middle Of A Rising talvez seja a composição que melhor sintetize a complexa mudança de direção assumida pela banda. Inaugurada pelas batidas tribais de Luccas Villela, a canção lentamente detalha um curioso universo de texturas eletrônicas, ruídos e guitarras, condensando vozes e distorções de forma sempre provocativa, caótica, quase ritualística. Passado um breve respiro, a banda ainda volta a acelerar, quebrando o ritmo da faixa de forma a produzir o mesmo som dançante que cresce no restante da obra.

Movido pela incerteza, Animania acaba criando pequenas brechas para que a banda prove de novas sonoridades. Um bom exemplo disso está na delicada The Rarest Good, música que transporta a banda para um ambiente melancólico, por vezes íntimo do R&B, sensível do primeiro ao último verso. Sobram ainda os temas eletrônicos de When The Fire Burns, o peso das guitarras em Dualism e a ambientação dançante de Future Tongues. Recortes, adaptações e experimentos controlados que servem de estímulo para o disco até o último segundo.

 

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Animania (2016, Uivo Records)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Far From Alaska, Ventre e Medulla
Ouça: Parallax, In The Middle Of A Rising e Devil’s Mark

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.